A Polícia Civil deve remeter o inquérito que investiga suposta fraude na venda de móveis em Igrejinha, no Vale do Paranhana, ao Judiciário nesta terça-feira (19). Clientes afirmam que a empresa Shabby Chic não entregou os produtos após o pagamento. Quatro pessoas envolvidas com a fábrica são alvo da apuração policial. O delegado Ivanir Caliari, titular na delegacia de Igrejinha, afirma que já encerrou a fase de depoimentos e que deve finalizar o inquérito ainda nesta segunda-feira (18).
— Chegaram mais algumas ocorrências. Todos os quatro envolvidos ali, familiares inclusive, com a gestão da empresa já foram ouvidos. Agora, já está na fase de conclusão e relatório para a remessa — explicou o delegado.
Até o momento, a polícia conta com cerca de 30 ocorrências anexadas ao inquérito. Os relatos de vítima sobre prejuízos na compra de móveis com a empresa são de diversos municípios do Estado, como Porto Alegre, Santa Maria, São Vendelino, Novo Hamburgo, além de cidades de Santa Catarina.
A polícia apura se os responsáveis pela empresa praticaram estelionato. A continuidade de negociações mesmo com a não entrega de móveis para clientes que já pagaram e o grande número de vítimas são elementos levantados durante a investigação.
Durante depoimento, um dos investigados, que se diz sócio-proprietário da empresa, afirmou que as transações seriam feitas via e-commerce, o que geraria um tipo diferente de estorno para os clientes em caso de não entrega dos móveis. Indícios colhidos pela Polícia Civil com uma das operadoras até o momento afastam essa possibilidade.
O suposto golpe
A maioria das vítimas informa cenário parecido. Clientes visualizam determinado móvel via internet, no site ou nas redes sociais da empresa, negociam a compra e efetuam parte do pagamento para confecção ou apenas entrega do objeto. Após o repasse do dinheiro, começa a falta de respostas ou sucessivas mudanças de prazos para entrega. Em grande parte dos casos, o móvel comprado não é entregue. A empresa alega problemas com matéria prima, mão de obra e de comunicação ao justificar as pendências em relação aos clientes.
A apuração da polícia identificou traços parecidos entre o modo de operação da empresa em Igrejinha com a fábrica Império da Madeira, que atuava em Campo Bom e era de propriedade de um dos investigados. Vítimas dessa outra empresa também relatam o mesmo problema, pagar pelo produto e não receber. Na época, as justificativas para atrasos eram as mesmas utilizadas pela Shabby Chic.
O local informado pela empresa como sede de sua fábrica, em Igrejinha, foi interditado na semana passada em razão de uma série de irregularidades apontadas em ação da polícia e da prefeitura de Igrejinha. Durante a ofensiva, constatou-se a ausência de documentação compatível com a produção e número de funcionários da fábrica. Os agentes também verificaram que a unidade atuava sem alvará da prefeitura de Igrejinha e as devidas licenças específicas para atividades com matéria prima em madeira.
A informação de que a empresa estaria atuando sob o regime de micro empreendedor individual (MEI), com registro em Campo Bom, colhida no início da investigação, foi um dos elementos que ajudou na linha de investigação no sentido de irregularidades em relação à atuação em Igrejinha.
Nesta segunda-feira, o local seguia interditado, segundo a prefeitura.
Contraponto
Wander Luiz Moreira Souza, que se diz um dos sócios da empresa Shabby Chic, informa, que, em relação ao registro da empresa e aos documentos que estariam em falta, "o registro estava em processo inicial de alteração" e que, no momento da operação, "trabalhava para resolver as pendências e atrasos já mencionados".
Sobre os atrasos na entrega dos móveis, ele afirma "são pontuais em determinados produtos, mais especificamente, em cozinhas sob medida, nas quais se utiliza madeira Pinus Densa, com teor de umidade baixo". Segundo o empresário, desde outubro a fábrica sofre com "escassez dessa matéria prima". A baixa oferta de mão de obra qualificada também está entre os problemas citados por Souza.
"Porém, novamente, ressaltamos que é um problema pontual, que se estenderá até fevereiro, visto que estamos trabalhando diariamente na resolução desses problemas, com produção em capacidade máxima em nossa fábrica. Em outubro, entregamos 169 pedidos, em novembro, 121, e em dezembro, 104. No momento, contamos com aproximadamente 17 pedidos em atraso, o que representa menos de 10%, do total de vendas do período. Ressaltamos que estamos esclarecendo junto às autoridades o ocorrido e ficamos à disposição para mais esclarecimentos, reafirmando que todos os pedidos serão entregues", disse em nota.