A investigação da Polícia Civil sobre uma fábrica de móveis em Igrejinha, no Vale do Paranhana, sobre a qual clientes reclamam que fizeram pagamento mas não receberam os produtos, conta com 20 ocorrências registradas. Os boletins foram feitos por vítimas de diversos municípios do Estado, como Porto Alegre, Santa Maria e São Vendelino. Nesta segunda-feira (11), um dos homens que se apresenta como sócio-proprietário da empresa prestou depoimento à Polícia Civil em Igrejinha. Ele é apontado pelas vítimas como um dos principais intermediários na negociação para a venda dos móveis.
Um ponto que esse sócio-proprietário alegou em seu depoimento pode causar reviravolta no caso. Segundo ele, as transações seriam feitas via e-comerce, o que geraria um tipo diferente de estorno para os clientes em caso de não entrega dos móveis. A partir dessa relato, agora a Polícia Civil terá de apurar, vítima por vítima, como foi feito o pagamento da encomenda.
— Ele (o sócio-proprietário) me alega que, uma vez feito pelo e-commerce, tem uma empresa administradora de pagamento que recebe esses valores e libera para ele somente após as entregas. E que, às vezes, atrasa a entrega, a vítima não reclama e ele recebe. Mas, se posteriormente a vítima reclamar com a empresa administradora, ela (a empresa administradora) vai pagar a vítima e buscar a cobrança junto à empresa de móveis. Se isso realmente se confirmar, pode dar uma reviravolta na situação — explica o delegado Ivanir Caliari, titular na delegacia de Igrejinha.
Agora, os policiais terão de apurar como as vítimas fizeram o pagamento e, caso a compra tenha sido feita por e-commerce, se buscou ressarcimento junto a empresa administradora que recebeu o valor. Segundo a versão do sócio-proprietário, em alguns casos o cliente pode simplesmente solicitar o estorno à essa empresa, que, conforme ele, estaria com o valor retido.
— O fato é, se eu verificar que realmente as vítimas podem ser ressarcidas por essa garantia, essa segurança da empresa administradora de pagamento e recebimento, ela te blinda de ser vítima de estelionato — explica o delegado.
A fábrica, identificada como Shabby Chic, é alvo de investigação da Polícia Civil. A empresa alega problemas com matéria prima, mão de obra e de comunicação ao justificar a não entrega dos móveis aos clientes. A polícia apura se os responsáveis praticaram estelionato. A continuidade de negociações com novos clientes, mesmo com a não entrega de móveis para aqueles que já haviam pago, além do grande número de vítimas, são elementos levados em conta na apuração. Quatro pessoas são investigadas até o momento.
A polícia ainda não informa o prejuízo estimado dos clientes, mas levantamento de GZH com base em relatos de 16 vítimas aponta montante de cerca de R$ 40 mil. No entanto, esse valor deve aumentar, pois grupo que reúne consumidores que alegam pendência com a empresa soma cerca de 30 participantes.
Cozinha improvisada e frustração
O caso da artesã Giovana Hotta Giordani, 48 anos, é um dos anexados à investigação policial. A moradora de Porto Alegre iniciou o contato com a empresa em julho de 2020 para realizar o sonho de ter uma cozinha no estilo farmhouse, que seria instalada após reforma no cômodo da sua casa. Após tratativas e visita à fábrica em Igrejinha, ela efetuou o pagamento de R$ 3,3 mil, referentes a cerca de 50% do valor dos móveis, em agosto, e combinou a entrega para meados de outubro. No entanto, o prazo venceu, ela não recebeu justificativas concretas para o atraso e não recebeu os produtos até hoje.
— Minha cozinha ficou pronta na parte de parede, chão, tudo, em outubro e os móveis não chegaram. Até hoje, está tudo dentro de caixa, estou sem cozinha. A gente teve de improvisar. Onde era um tanque a gente improvisou uma pia de inox para a gente poder ir usando. Tenho mesa e cadeira nova na cozinha, mas não tenho o restante — relata a artesã.
Minha cozinha ficou pronta na parte de parede, chão, tudo, em outubro e os móveis não chegaram. Até hoje, está tudo dentro de caixa, estou sem cozinha.
GIOVANA GIORDANI
Artesã
Giovana disse que, nos primeiros contatos com os representantes, a empresa passava confiança. Inclusive mostraram o maquinário utilizado na confecção dos móveis para o marido dela, informando que parte dos equipamentos eram dos Estados Unidos.
Em relação a resolução de seu caso, Giovana não quer receber mais as peças encomendadas com a empresa em Igrejinha, quer a devolução do dinheiro. Para não perder tempo com a instalação da nova cozinha em meio a esse impasse, a artesã já encomendou novos móveis, que devem chegar no fim deste mês.