
Dois homens de São Paulo foram presos na tarde desta terça-feira (1º) pela Polícia Civil na saída de uma agência do Banrisul em Porto Alegre após aplicarem uma série de golpes usando cartão de crédito de vítimas da Capital. Junto com a dupla, foi encontrado o cartão de um hotel no Moinhos de Vento, onde os criminosos estavam hospedados. No quarto do estabelecimento, a polícia apreendeu 33 máquinas de cartão, computadores, celulares e R$ 11 mil em espécie.
A dupla vinha sendo investigada pela 1ª Delegacia de Polícia que, em dois meses, registrou 15 ocorrências do mesmo golpe com vítimas que relataram prejuízos de R$ 10 mil, R$ 30 mil e R$ 50 mil. Com retrato falado dos suspeitos, a polícia vinha monitorando os estelionatários.
Os golpistas ligam para o telefone fixo da vítima, normalmente mulheres e idosas, e se dizem passar por funcionários da área de segurança do cartão de crédito. Na conversa, pedem para a pessoa confirmar se uma compra fora do seu padrão, de valores de R$ 1,5 mil a R$ 2 mil em lojas como Americanas, Magazine Luiza ou Carrefour. A vítima responde que não efetuou a compra e o interlocutor a orienta a cancelar o cartão. Com o argumento de oferecer mais segurança ao cliente, o golpista dá o número fixo do banco e pede para a vítima desligar a ligação e discar para a agência.
Por ser uma ligação de telefone fixo, o criminoso prende a linha do outro lado depois que a vítima desliga e digita o número do banco. Quem atende a ligação, é uma segunda pessoa que confirma a operação e pede que o cliente digite sua senha. Por meio da discagem dos números no telefone, os golpistas conseguem capturar os números pelo som das teclas. O golpista solicita ainda que o cliente corte o cartão ao meio — preservando a área do chip — e o entregue a um motoboy que irá até sua casa recolher o cartão.
— É necessário no mínimo três pessoas para colocar o golpe de pé, fora quem dá a informação privilegiada do cadastro dos clientes. Com a senha em mãos, o golpe se perpetua, fazem transferências, saques, geram cartão virtual e fazem compras à vista e à prazo — explica o delegado Paulo Jardim.
É um golpe que está disseminado por Porto Alegre, causando prejuízo às vítimas e aos bancos, todo mundo sai perdendo. Chegamos a uma ponta desse iceberg. Se fossem só dois envolvidos, por que 33 máquinas de cartão? Com certeza tem mais gente envolvida, eles aplicam muitos golpes ao mesmo tempo.
PAULO JARDIM
Titular da 1ª Delegacia de Polícia de Porto Alegre
A partir da prisão, a 1ª DP passou a receber informações de registros do mesmo crime de pelo menos mais sete delegacias da Capital — 2ªDP, 3ªDP, 4ªDP, 6ªDP, 14ªDP, 17ªDP e 20ªDP:
— É um golpe que está disseminado por Porto Alegre, causando prejuízo às vítimas e aos bancos, todo mundo sai perdendo. Chegamos a uma ponta desse iceberg. Se fossem só dois envolvidos, por que 33 máquinas de cartão? Com certeza tem mais gente envolvida, eles aplicam muitos golpes ao mesmo tempo. É um golpe que não existe só aqui, em outras regiões eles já estavam muito queimados dentro das agências bancárias, pessoal da segurança do banco cuida, e aí vão migrando para outras regiões — afirma Jardim.
O policial explica que o material apreendido vai possibilitar a sequência da investigação, permitir que se identifiquem outros membros da quadrilha e apurar o patrimônio dos criminosos.
— Também temos condições de apurar quanto eles já roubaram.
Investigados pelos crimes de estelionato e organização criminosa, os suspeitos foram presos após saírem de dentro da agência onde fizeram uma transação bancária.
— Eles foram filmados e depois que completaram a transação, e o crime se materializou, foram presos e pegamos os recebidos. Só no veículo em que estavam, tinham 12 máquinas de cartão. Os bancos fazem questão de ajudar e colaborar porque recebem muitas reclamações. Não tenho dúvida que se trata de uma quadrilha — afirma Jardim.
Antes da prisão, a polícia analisou imagens de câmeras de segurança de agências bancárias para chegar a identidade dos criminosos. Junto com as instituições financeiras, o inquérito investiga como os criminosos têm acesso aos dados dos clientes. Vítimas que registrarem boletim na 1º DP — Rua Riachuelo, 613, no Centro Histórico — poderão fazer o reconhecimento dos suspeitos.
— Prender estelionatários é um grande desafio porque é um golpe de esperteza. Conseguir autuação em flagrante é mais complicado ainda — completa Jardim.
Em depoimento, os suspeitos permaneceram em silêncio. Além da prisão em flagrante, homologada pela Justiça, o delegado representou pela prisão preventiva da dupla.
Dicas de segurança para não cair em golpes
- Não dê senhas por telefone
- Os bancos não fazem contato com os clientes por telefone
- Os contatos sempre são feitos a partir do correntista para o banco e não o contrário
- Não corte o cartão e não encaminhe nada a ninguém
- Se tem alguma dúvida, vá até o banco pessoalmente contatar seu gerente