No retorno da fase de audiências do processo criminal que apura a morte de Rafael Mateus Winques, de 11 anos, em Planalto, em maio deste ano, o pai do menino foi o primeiro a ser ouvido. Rodrigo Winques falou presencialmente no Fórum da cidade, no Norte do Estado, e repetiu boa parte do relato dado a juíza Marilene Parizotto Campagna em outubro. A mãe do garoto, Alexandra Dougokenski, 33 anos, que confessou ter matado a criança e escondido o corpo ao lado de casa, está presa na Penitenciaria Estadual Feminina de Guaíba. Ela é ré no processo e responde por homicídio qualificado e outros três crimes conexos — ocultação de cadáver, falsidade ideológica e fraude processual.
Por três horas, o pai respondeu perguntas da magistrada, dos promotores e dos advogados de Alexandra. Antes de começar a falar, Rodrigo pediu para depor sem que Alexandra acompanhasse sua fala por videoconferência. O pedido foi atendido pela juíza. Quando questionado sobre como está a vida sem o filho, disse: "Está muito ruim, sabe. Perde a graça." Ainda sobre a ausência do filho, afirmou: "Sinto muita falta. Ainda ontem fui ao cemitério, chorei bastante." Rodrigo também declarou que Alexandra não era boa mãe, mas não deu detalhes para a afirmação. Admitiu, porém, que deveria ter pedido a guarda de Rafael.
O agricultor afirmou que no tempo em que morava com ex-esposa, Alexandra era "bastante exigente com os guri". Além de Rafael, a ré é mãe de um adolescente de 17 anos, fruto do casamento anterior. Rodrigo contou que desde que o menino se mudou com a mãe e o irmão para Planalto, três anos antes de ser morto, seu contato com o filho era frequente por telefone. Segundo ele, Alexandra, às vezes, não deixava o garoto conversar muito com o pai. Na descrição dele, Rafael "sempre ficava em casa, jogando joguinho, fazendo os temas dele".
O promotor Diogo Gomes Taborda perguntou a Rodrigo o que Alexandra teria feito para encontrar o filho — Rafael desapareceu na madrugada de 15 de maio, até a mãe confessar o crime, dez dias depois, o paradeiro da criança era um mistério que mobilizou amigos e familiares, além de buscas do Corpo de Bombeiros, Brigada Militar e Polícia Civil. Rodrigo respondeu que Alexandra estava "sempre em casa. Não demonstrava nada." Afirmou também que a mãe estava "sempre tranquila. Não estava desesperada".
Durante a audiência, Rodrigo disse que não esteve em Planalto na semana anterior ao crime e que a última visita à cidade teria sido no início da pandemia. Repetiu a mesma versão que deu em audiência em 1º de outubro, ao afirmar que soube do desaparecimento de Rafael por Delair Souza, namorado de Alexandra na época, que ligou para ele do celular do menino. No dia seguinte, em 16 de maio, foi até Planalto.
O pai já havia sido ouvido em audiência em outubro, mas a defesa de Alexandra solicitou novo depoimento porque, na época, ainda não havia acessado documentos anexados ao processo. O depoimento anterior permanece válido.
Na tarde desta quarta-feira (9), os advogados de Alexandra questionaram Rodrigo sobre quem o levou até a cidade. À polícia, Rodrigo teria dito que foi de carona com apenas uma pessoa. Na audiência, afirmou que uma terceira pessoa foi na viagem. A defesa da mãe pretende explorar esse ponto:
— Rodrigo colaborou bastante para elucidação dos fatos. A principal tese de defesa é que Alexandra acusa ele do crime, ela nos apresentou algumas possibilidades de suspeitas que recaem sobre o pai, estamos tentando apresentar esses pontos — afirma Filipe Trelles, um dos três defensores de Alexandra que participou da audiência.
Para o advogado que representa Rodrigo, Daniel Tonetto, está comprovado que o pai estava em Bento Gonçalves, na Serra, na noite em que o filho foi morto:
— Foi aberto sigilo fiscal, telefônico e financeiro dele. Não tem o mínimo fundamento dizer que ele estava em Planalto no momento do crime. Ministério Público e polícia, todos se manifestaram nesse sentido.
Rodrigo foi o primeiro de 23 pessoas, entre familiares, professores, amigos, policiais e peritos, que serão ouvidas em mais cinco audiências até o final da próxima semana. Estão agendadas seis audiências para os dias 10, 11, 14, 17 e 18. No último dia, deverá ser realizado o interrogatório de Alexandra.
Próximas audiências:
10 de dezembro, às 13h15:
- Delair de Souza (namorado de Alexandra na época do fato)
- Ana Maristela Stamm (professora de Rafael)
- Carlos Eduardo da Silva (vizinho de Alexandra na época do fato)
- Jaqueline Luíza Mesnerovicz (mãe do melhor amigo de Rafael)
- Jackson Getúlio Consoli (inspetor de polícia)
11 de dezembro, às 13h15:
- Eibert Moreira Neto (Delgado de Polícia)
- Ercílio Raulileu Carletti (Delegado de Polícia)
- Caroline Hercolani Alegretti (Perita do IGP)
14 de dezembro, às 13h15:
- Roberto Pontes dos Santos (Médico Legista)
- Bábara Zaffari Cavedon (perita do IGP)
- Roberta Brambila (testemunha de defesa)
- Alberto Moacir Cagol (irmão de Alexandra)
- Ladjane Ravagio (professora de Rafael)
- Denise Bielski Vojniek (conselheira tutelar)
- Isailde Batista (mãe de Alexandra)
- Adolescente (irmão de Rafael)
17 de dezembro, às 13h15:
- Rosemar Winques Ostroski (irmã de Rodrigo Winques)
- Gilmar Antonio Atzler (proprietário do imóvel que Rodrigo reside)
- Marizete Lisboa Miranda da Silva (amiga de Rodrigo Winques)
- Rodrigo Oliveira Dias (amigo de Rodrigo Winques)
- Claudiomiro Miranda da Silva (esposo de Marizete)
- Antônio Gabriel da Silva (testemunha de defesa)
18 de dezembro, às 13h15:
- Interrogatório da ré Alexandra
Fonte: Tribunal de Justiça-RS