
O homem que se passava por médico teria feito pelo menos sete vítimas na Capital. Após a divulgação da prisão de Andre Sanchez Junqueira, 52 anos, em 20 de fevereiro, outras pessoas procuraram a polícia. O suspeito, que se apresentava como Luis Carlos Schneider, foi detido em flagrante na residência de um casal de idosos que estaria sendo enganado por ele, na Capital.
Junqueira está no Presídio Central e é réu por estelionato e exercício ilegal da profissão. Em um quarto alugado por ele foram encontrados 13 blocos de receituários da prefeitura de Porto Alegre e de controle especial, toalhas e lençóis de hospitais. Na casa de uma ex-companheira, a polícia apreendeu uma maleta médica com estetoscópio e recibos.
Segundo a delegada Cristiane Ramos, a ex de Junqueira atuava como cuidadora de uma das vítimas e indicou, em 2011, o falso profissional. A polícia ainda apura qual o envolvimento dela. O acusado teria receitado medicamentos para a paciente e sua filha por três anos:
— Passou a participar das festas de família. A filha trouxe fotos de eventos em que ele estava. Outra mulher, que também trabalhava como cuidadora, indicou Junqueira a três pessoas, sem desconfiar do golpe.
À polícia, contou que conheceu o suspeito em um hospital quando fazia companhia a um paciente — na situação, ele também estava como acompanhante. A vítima o levou para cuidar do pai, para quem o falso médico dava receituário de controle especial, e de um sobrinho. Depois, indicou para a família de um magistrado, onde ela atuava como cuidadora.
As pessoas que ouvi só se deram conta de que foram lesadas após ver as reportagens da prisão em flagrante.
CRISTIANE RAMOS
Delegada
A Polícia Civil possui cinco canhotos de recibos que a família do magistrado teria pago ao falso médico durante os meses de julho e agosto de 2019. O total é de R$ 5 mil.
— Como a família do magistrado não veio falar conosco, não sabemos se ele se apresentou como médico ou cuidador. Mas sabemos que chegou a convencer a família a demitir a cuidadora que o indicou, provavelmente para que ele tivesse liberdade para aplicar o golpe — explica a delegada.
Segundo Cristiane, o réu tinha envolvimento emocional com as vítimas, o que facilitava o êxito do golpe.
— As pessoas que ouvi só se deram conta de que foram lesadas após ver as reportagens da prisão em flagrante — afirma a delegada.
O verdadeiro Luis Carlos Schneider é pediatra, registrado no Cremers e não atende adultos nem idosos. Em nota enviada à reportagem em fevereiro, o profissional afirmou que "atende em Porto Alegre e em Canoas, como médico emergencista, na área de Pediatria. Nunca atendeu de forma domiciliar". Também reforçou o desejo de "esclarecer e tranquilizar seus pacientes", pois seu nome está sendo divulgado junto a um fato grave, "sendo que não tem qualquer participação no ocorrido."
As investigações revelam que o verdadeiro médico teve o carro roubado em 2009. No veículo, estavam uma maleta com equipamentos e receitas em seu nome. A delegada acredita que pode ser o mesmo material usado por Junqueira para se passar pelo profissional.
Primeiro caso
O primeiro caso descoberto pela polícia envolve um casal de idosos, moradores do bairro Bom Fim, em Porto Alegre. Foi na casa deles que o homem foi preso. As vítimas foram lesadas em mais de R$ 20 mil em um ano. O marido é um homem de 94 anos, que tem Alzheimer e câncer de pulmão. A esposa, de 77 anos, foi quem contratou o falso profissional por indicação de uma balconista de farmácia.
À família, Junqueira se apresentava como médico, andava com maleta de equipamentos, estetoscópio, receitava medicamentos e examinava o homem, que está acamado. Cobrava R$ 150 por visita semanal. Assim como com as outras vítimas, foi estabelecendo uma relação de confiança com a família.
O presidente do Conselho Regional de Medicina do RS (Cremers) Eduardo Trindade afirma que pacientes com dúvidas sobre atendimento ou conduta do médicos devem contatar a entidade.
— O médico tem boa imagem junto a sociedade e essa pessoa se utilizou desse benefício. O conselho pode auxiliar a esclarecer eventuais dúvidas — reforça.
Contraponto
A Defensoria Pública informa que o seu único contato com Andre Sanchez Junqueira foi na audiência de custódia porque ele não tinha advogado constituído. Depois, o processo não retornou à instituição e, por isso, a defensoria ainda não sabe se ele vai constituir advogado ou vai optar pela defesa pública.