Em um grande círculo ao lado do Monumento ao Expedicionário, na Redenção, dezenas de pessoas realizaram um ato pelo fim da violência contra as mulheres na tarde deste domingo (9), em Porto Alegre.
Recheada de apresentações artísticas, a mobilização lembra Maria Glória Poltronieri Borges, 25 anos, encontrada morta em uma cachoeira no município de Mandaguari, no Paraná. A jovem, que era artista e bailarina, fazia um retiro em meio a natureza, e ao visitar a cachoeira, foi estuprada e estrangulada em janeiro de 2020.
Em Porto Alegre, a atriz Tânia Farias, do grupo Ói Nóis Aqui Traveiz, lembra a vida da bailarina assassinada. Tânia conheceu a jovem quando esteve no Paraná promovendo oficinas artísticas.
— É uma mobilização que começou com as pessoas que conheciam ela, e que foi como semente, se espalhou. Essa ação é para pressionar as investigações sobre a morte, mas também para mostrar que, assim como ela, todo menina ou mulher tem o direito de ir e vir. Nós queremos viver.
Essa "grande rede de afeto", como define Tânia, foi criada após a morte de Maria e busca o respeito pelas mulheres. O assassinato causou repúdio e atos foram realizados também em outras cidades do país, como Maringá, Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro e até em Bolonha, na Itália, por amigos da jovem, segundo Tânia.
— A gente sabe que esse número não para de aumentar, mas quando acontece do nosso lado, com alguém que conhecemos, é sempre um choque. Quando tu sabe a preciosidade que era essa menina, assim como tantas outras, é muito triste.
Além de dezenas de amigos, Maria Glória deixa a mãe, o pai e a irmã, que aguardam a conclusão do caso. Ao final do ato na Capital, uma marcha foi realizada contornando a Redenção.
Histórias se cruzam
Acompanhando o evento, os participantes lembram histórias que viveram ou assistiram. Amigas e colegas de trabalho de Márcia Calixto, morta em 2012, estiveram na Redenção para homenagear a enfermeira. A mulher, de 39 anos, e o filho, Matheus, de cinco, morreram após serem esfaqueados pelo marido da vítima, que era pai da criança. O corpos foram encontrados dentro da casa em que viviam, no bairro Tristeza, zona sul de Porto Alegre.
Em 2017, o bioquímico Ênio Luiz Carnetti foi condenado a 54 anos e oito meses de prisão pelas mortes.
— Ela estava evoluindo profissionalmente, era extremamente estudiosa, uma enfermeira brilhante. Estava pensando em se separar, questionando o relacionamento em que estava — afirma a amiga da vítima, Lisiane Acosta, 55 anos.
Com uma camisa estampada com a foto das vítimas e os dizeres "Paz para Márcia e Matheus", as amigas se emocionaram com o ato e lembraram que os casos de feminicídio no país vêm aumentando.
— A gente está aqui pela Márcia, mas não só por ela. É por todas as mulheres que tiveram esse fim. Esse número precisa parar de crescer — diz Fátima de Bem, 65.
Integrante do coletivo Juntas, Victoria Farias, 20 anos, ressalta a importância desse tipo de ato para conscientizar as pessoas.
— Ações assim são importantes para que essa mensagem, de respeito às mulheres, à comunidade negra, às minorias, chegue em pessoas que não têm contato com essas lutas no dia a dia. Estar em locais públicos, abertos, como a Redenção, nos propicia isso — afirma. — Não tem como participar de atos assim e não lembrar que esse tipo de coisa pode acontecer com a gente, com nossas amigas, a qualquer hora. É preciso conscientizar.