A Polícia Civil indiciou 39 pessoas suspeitas de integrar um esquema de roubo, clonagem e venda de veículos comandado de dentro da Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc). Entre os investigados, está o apenado Fernando Martins Marques, 41 anos, que tem mais de 60 anos de condenação. Ele é apontado como o líder do esquema criminoso, suspeito de ter lucrado em dois anos R$ 1 milhão com o chamado escritório do crime. Os demais indiciados seriam ladrões e clonadores de carros, falsificadores de documentos e os laranjas que emprestavam as contas bancárias para o grupo.
O delegado Rafael Liedtke, da Delegacia de Roubo de Veículos do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), diz que o trabalho é resultado de quase dois anos de investigação e de operação policial deflagrada dia 26 de julho deste ano com 175 agentes em 10 cidades gaúchas — a maioria na Região Metropolitana. Na ocasião, 18 pessoas foram presas.
A polícia conseguiu confirmar que mais de 40 veículos roubados e clonados foram negociados desde a metade de 2017, sendo que 19 foram recuperados. Os suspeitos respondem por estelionato, organização criminosa, roubo e clonagem de veículos, receptação qualificada, falsificação de documento público, uso de documentos falsos, porte ilegal de arma de fogo e posse irregular de arma de uso restrito.
Esquema criminoso
As ordens para o roubo de veículos, segundo o inquérito policial, eram dadas por Marques e um comparsa de dentro de uma cela da Pasc. Depois entravam em cena os responsáveis por guardar e pela adulteração de sinais identificadores no motor, chassi e vidro, além das placas. Na sequência, outro grupo falsificava documentos. Depois, os automóveis clonados eram revendidos para outros criminosos e receptadores em geral, sempre com valores abaixo do preço de mercado. Parte deles era anunciada nas redes sociais, sendo que o próprio preso da Pasc montava os anúncios e atendia ligações telefônicas ou enviava mensagens via WhatsApp.
Ele se passava por militar ou empresário, depois de fazer anúncios na Internet, para vender os veículos roubados e clonados. Após combinar com as vítimas um local para realizar a venda, o preso usava geralmente mulheres - que se passavam como esposa dele - para apresentar os veículos. O objetivo de Marques era fazer com que elas induzissem as pessoas a comprar os carros antes mesmo de fazer a vistoria, sempre alegando alguma urgência médica ou relacionada à viagem. As vítimas, atraídas pelos preços baixos, acabavam aceitando, mas ao fazer a vistoria posterior, notavam que tinham caído em um golpe. O dinheiro obtido pelo grupo, por meio de transferência bancária, era direcionado para contas de laranjas. A polícia obteve da Justiça o bloqueio de 30 contas bancárias.
Áudios
- Escuta obtida com autorização da Justiça, durante a investigação, mostra o detento, de dentro da Pasc, conversando com a companheira, presa preventivamente em julho, sobre dois carros roubados que seriam oferecidos a novas vítimas:
- Em outro áudio autorizado pela Justiça, o preso afirma ser um capitão do Exército, morador de Brasília, e negocia um carro roubado com vítima do golpe: