
O beco onde dois policiais foram mortos em confronto, na noite de quarta-feira (26), no bairro Partenon, amanheceu sob silêncio dos moradores, escondidos atrás de janelas e portas fechadas. O cenário contrastava com a noite de tiroteio e posterior ocupação por parte da Brigada Militar — que cercou a região e abordou veículos em busca de possíveis suspeitos.
O medo tomou conta de moradores e comerciantes e o movimento na rua era menor do que o habitual, segundo a dona de uma pequena venda. Como os demais, ela não quis se identificar.
— Aqui, a essa hora, teria muito mais gente caminhando — contou a mulher, apontando para o local que pouco antes havia sido foco do efetivo da BM.
O Beco da Bruxinha tem uma série de construções de tijolos à mostra e pinturas inacabadas. A entrada do local é estreita, com pouco mais de um metro de largura, acessível apenas para pedestres.
Com marcas de sangue em todo o trajeto de 100 metros, chega-se à casa onde os policiais Rodrigo da Silva Seixas, 32 anos, e Marcelo de Fraga Feijó, 30 anos, foram alvejados por Cleber Josué da Rosa — que também morreu após o confronto.
Nesta manhã, a casa tinha poças de sangue no banheiro e rastros na calçada. Roupas e tênis tingidos de vermelho estão espalhadas por toda parte. No pátio, a moradora usava uma mangueira para lavar o chão.
— Eu estava trabalhando, cheguei só agora e encontrei minha casa assim, cheia de sangue — contou.

O homem apontado como autor dos disparos contra os PMs é descrito como "um especialista no crime".
— Ele ficou anos preso e aprendeu muita coisa. Até bomba em panela de pressão ele fazia — conta o morador de um beco vizinho.
Pai de duas crianças, vivendo desde o início do ano no Beco da Bruxinha, outro morador relata o pavor de viver muito próximo de onde as mortes aconteceram.
— Peguei meus filhos e minha esposa e me escondi embaixo da cama. Só ouvi o estrondo. Foi apavorante. Não tive coragem de olhar — afirmou, entre as grades que protegem a entrada da casa de material sem forro.
Desempregado desde 2016, disse estar ainda nervoso com a situação.
— Estou pensando em sair daqui, mas preciso achar alguém para comprar (a casa). Tem muito tráfico, está perigoso.
Acompanhada da neta, uma senhora lembra com saudosismo de quando se mudou para o bairro Partenon.
— Aqui já foi bem melhor. No meu beco (ao lado do Beco da Bruxinha), mora muita família. Mas sempre tem os guris que fazem a "correria" e estragam — lamentou.
Com reforço nas equipes para a segurança da Copa América, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) deslocou dois veículos, com cerca de oito agentes, para ajudar em rondas e revistas às residências. Duas equipes do núcleo de operações especiais se uniram às viaturas da Brigada Militar, que fazem policiamento em frente ao ponto onde ocorreu o crime. Circulando por outras vias há agentes da Patrulha de Operações Especiais (Patres) da BM.
