
A Justiça marcou para 6 de junho o julgamento do ex-PM Alexandre Camargo Abe, 38 anos, acusado pela morte do boxeador Tairone da Silva, 17 anos, em março de 2011, em Osório. Uma sessão havia sido iniciada em 2 de abril, mas o conselho foi dissolvido após a defesa de Abe anunciar que deixaria o júri.
Os advogados Ezequiel Vetoretti e Rodrigo Grecellé alegaram que não havia segurança para que o júri continuasse. Mesmo com a juíza Anna Alice da Rosa Schuh, que presidia a sessão, garantindo forte aparato de segurança, a dupla decidiu deixar o local. Por causa disso, a juíza decretou a prisão preventiva do réu e determinou que os defensores pagassem 50 salários mínimos de multa.
Para evitar novos questionamentos sobre a segurança, a juíza, ao determinar uma nova data, afirmou que os procedimentos de segurança serão apresentados pela Brigada Militar e pelo núcleo de inteligência do Judiciário.
Alexandre Camargo Abe, que confessou ter matado Silva, será julgado por homicídio duplamente qualificado, por motivo torpe e recurso que dificultou a defesa da vítima.
Na época, a investigação apurou que Abe tinha uma rixa com jovens que frequentavam uma casa abandonada, perto da sua. O policial afirma que foi provocado pelo boxeador, depois que advertiu o grupo de amigos. Pessoas próximas, entretanto, afirmam que a rixa tinha também motivos pessoais.
A investigação apurou que o policial havia planejado a morte. Em depoimento, uma testemunha contou que o boxeador havia relatado ter sido ameaçado pelo PM.
Após o crime, Abe foi expulso da Brigada Militar. Ele concluiu a faculdade de Direito, passou no exame da OAB e estava atuando como advogado trabalhista em Porto Alegre antes de ser preso após a audiência.
O que diz a defesa
O advogado Ezequiel Vetoretti divulgou nota, após deixar o júri, na qual afirma que a defesa foi intimidada e ameaçada "mais de uma vez" por pessoas que acompanhavam a sessão. A defesa de Alexandre Abe também afirma que não descarta pedir a transferência do julgamento para outra comarca. Leia a nota na íntegra:
Durante a sessão de julgamento, fomos, em mais de uma oportunidade, ameaçados e intimidados por pessoas que acompanhavam os trabalhos.
E, ameaçados, não tínhamos condições de garantir a plenitude de defesa do acusado.
Respeitamos a decisão que decretou a prisão preventiva e a combateremos através das vias recursais, como deve ser.
Analisaremos os autos e degravações e com serenidade tomaremos a decisão. Não descartamos o pedido de desaforamento.
Por fim, salientamos que em mais de 12 anos de profissão, jamais passamos por situação similar. A difícil decisão de deixar o plenário foi tomada para garantir o pleno exercício de defesa, que com a máxima licença, não pode ser exercido sem liberdade e com intimidações. O caminho que trilhamos na Advocacia - com trabalho ético, respeitoso e pautado na lealdade e lisura -testemunha a nosso favor.