Menos de uma hora após a reportagem deixar o bairro Dunas, apontado como o mais violento de Pelotas, um jovem foi executado no local. Mas a Brigada Militar agiu rápido, e os autores do crime foram detidos em flagrante. Para o major Márcio Facin, do 4º Batalhão de Polícia Militar (BPM), a ação que resultou nas prisões foi possibilitada pelo Pacto Pelotas Pela Paz, implantado no município em agosto de 2017.
— Com a troca de informações e integração com a Guarda Municipal, tem sido possível colocar viaturas em áreas estratégicas, o que nos dá mais agilidade, como nesse caso — diz.
Responsável pela Guarda Municipal, o tenente Aldo Bruno concorda. Diferentemente do que ocorre na maioria das cidades, em Pelotas a corporação realiza policiamento ostensivo e usa arma. Com isso, auxilia a BM na tarefa.
— O diferencial é atuar de forma integrada, com a troca de experiências. Essa integração faz toda a diferença, mesmo com parcos recursos. O Observatório (Municipal de Segurança Pública) mapeia as áreas de risco e as viaturas são colocadas estrategicamente nesses locais — explica Bruno.
Nos casos de roubos, em 2018, houve redução de 19% em relação ao ano anterior pelos dados da Secretaria da Segurança Pública (SSP). O índice deixa Pelotas em quarto lugar no ranking das cinco cidades mais populosas. Já em relação aos veículos levados por ladrões, a cidade da Região Sul obteve a maior queda (38%) nos casos.
— Marcamos presença em áreas de grande incidência. Usamos até viaturas da fiscalização de trânsito, possibilitando deslocarmos os veículos da Guarda Municipal e da Brigada Militar para locais onde ocorrem os mais crimes mais graves — explica o tenente Bruno.
"Ações de caráter preventivo"
Para a prefeita de Pelotas, Paula Mascarenhas, os resultados obtidos nos primeiros 16 meses desde a implantação do programa são positivos não só no combate a problemas considerados graves, como homicídios, latrocínios e roubos, mas em outros de caráter preventivo, como ações em escolas, na Fundação de Atendimento Socioeducativo (Fase) e no sistema prisional.
— Há trabalho realizado na rede de escolas com o qual obtivemos resultado extraordinário, com 89% de mudança de comportamento de alunos antes considerados agressivos. Na Fase, também colhemos frutos com a oferta de oficinas para os adolescentes. No sistema prisional, tivemos a utilização de mão de obra de apenados em obras públicas — avalia.
O diretor executivo do Instituto Cidade Segura (que, em parceria técnica com o Instituto Comunitas, ajudou a prefeitura a desenvolver o projeto), Alberto Kopittke, prevê que o Pacto Pelotas Pela Paz irá se desenvolver e apresentar resultados ainda mais positivos ao longos dos anos:
— É um plano de repressão, inteligência e prevenção organizada, que vai se fortalecer com o tempo.
O titular da Delegacia de Homicídios, Félix Rafanhim, considera positivos os resultados, mas acredita que os reflexos maiores deverão ser percebidos futuramente.
— Integração sempre houve, especialmente com a BM. Nos homicídios, o pacto é um importante projeto de médio e longo prazos, pois ataca o caldo de cultura que leva à criminalidade — garante o delegado.
"Facções fizeram com que os índices subissem"
Mas o plano enfrenta resistência e recebe críticas da oposição no município. Mesmo sem analisar em detalhes os indicadores criminais, o vereador Ivan Duarte (PT) não associa os resultados positivos ao plano.
— Vejo mudanças para melhor, mas não atribuo ao pacto. Pelotas, nos últimos anos, passou a conviver com um fenômeno que não tinha antes, que é a presença de facções em presídios locais. Houve uma explosão de homicídios, então, o ponto de partida para comparações já estava acima do normal. Segurança é algo difícil. Como um município pode atender a algo que nem o Estado consegue suprir? — diz.
O parlamentar afirma ainda que a forma de atuar da Guarda Municipal impediu que imigrantes senegaleses se instalassem na cidade.
— Foi um dos poucos lugares onde isso aconteceu — argumenta.
O secretário municipal de segurança pública, Aldo Bruno, contesta:
— Pelo contrário. Pelotas acolheu senegaleses e, através da Secretaria de Assistência Social, ofereceu cursos de qualificação. O que não podem é vender mercadorias no centro sem autorização, pois a lei não permite.