Das 2,5 mil escolas estaduais do Rio Grande do Sul, 297 foram atacadas em 2018. Na média, isso significa que, por dia, 1,5 instituições de ensino do Estado foram arrombadas ou alvo de furtos nos primeiros meses de 2018 — há casos que os crimes foram cometidos na parte externa da instituição de ensino. No mesmo período do ano passado, 206 casos foram registrados.
Na área da segunda Coordenadoria da Educação, localizada em São Leopoldo, o número de furtos e arrombamentos quase dobrou. Passou de 42 casos em 2017, para 73 nesse ano. A coordenadora Helenise Junchen diz que desde o ano passado as escolas da região têm passado por reformas e isso pode ter chamado a atenção dos ladrões:
— Eles levam, geralmente, coisas pequenas. Equipamentos eletrônicos...
Chamou atenção também a situação da 6ª coordenadoria, sediada em Santa Cruz do Sul, e responsável por 165 escolas em 18 municípios, onde os casos passaram de quatro para 19. Na 7ª coordenadoria, em Passo Fundo, foram 21 furtos e arrombamentos em 2018, contra nenhuma ocorrência nas escolas dos 32 municípios, no ano passado. Outro local em que também houve aumento foi na área da 12ª coordenadoria, em Guaíba. Passou de 1 para 19.
Em Porto Alegre, houve redução no número de ataques: foram 21 casos em 2017 e 10 nesse ano. A maioria dos ataques ocorreu durante os meses de janeiro e março. Foi o caso da Escola Estadual de Ensino Fundamental Ana Neri, no bairro São Sebastião, na Capital. O local foi atacado oito vezes em 2018. Foram levadas lâmpadas, cortinas, livros e, em um dos casos, os bandidos levaram todos os objetos da sala dos professores, incluindo um frigobar que havia sido adquirido pelos funcionários. A diretora da escola, Simone Ribeiro, conta que em uma das vezes passou em frente ao local durante uma noite e percebeu uma janela aberta. Decidiu entrar no prédio e deparou com um homem.
— Quando vi, estava cara a cara com o ladrão. Era o mesmo que já havia atacado a escola outras vezes. Reconheci pelas câmeras de segurança — conta ela, que chamou o PM residente, acionou a polícia, mas o suspeito fugiu.
Também na Capital, a Escola Estadual de Ensino Fundamental Felipe de Oliveira, no bairro Petrópolis, sofreu três ataques em junho e o colégio passou um mês sem luz, sem água e sem telefone. Segundo a diretora, Regilane Rocha, no primeiro ataque foram levados os fios de energia elétrica. No segundo, roubaram o hidrômetro. E, no último, os cabos de telefonia. A solução foi reduzir os períodos para realocar os alunos para salas com mais iluminação.
— Fizemos um acordo com a secretaria, reduzimos os períodos e pedimos ao pais que mandassem merenda até que a luz fosse reestabelecida — conta.
A escola fica ao lado do ginásio da Brigada Militar. Desde que o local começou a ser demolido, o prédio da escola, segundo a diretora, ficou mais exposto à violência. Regilane conta que foi providenciado cercamento de todo o terreno e uma empresa de vigilância privada foi contratada. Desde então, não houve novos ataques.
Ladrões também deixaram sem luz a Escola Estadual de Ensino Fundamental Padre Léo, no Rubem Berta. Por três dias em julho, o local ficou sem energia elétrica. Em outro ataque em 2018, como conta a diretora Ana Paula Pianezzola, um bebedouro velho, que estava dora de uso, foi levado.
Em nota conjunta entre a Secretaria da Educação e a Secretaria da Segurança, o governo do RS afirma que estão sendo tomadas providências. Uma delas é a ampliação do programa PM Residente, em que soldados da Brigada Militar moram nos estabelecimentos escolares. Atualmente, cerca de 500 policiais militares estão nesta condição. A previsão é de que esse número seja ampliado em setembro. Está sendo feito um novo levantamento das escolas que têm condições para abrigar o programa. Também são citadas as Comissões de Prevenção de Acidentes e Violência Escolar (Cipaves), presentes em toda rede de escolas.
A nota aponta, ainda, o Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (Proerd) da Brigada Militar e a operação Anjos da Lei, da Polícia Civil, que desde 2011 já realizou diversas ações de combate ao tráfico de drogas no entorno de instituições de ensino.
O levantamento fornecido pela Secretaria da Educação é baseado nas notificações repassadas pelas escolas às coordenadorias. O número de casos pode ser maior, pois algumas instituições não fazem a comunicação das ocorrências quando o material roubado não precisa ser reposto pelo Estado.
A nota diz ainda que os arrombamentos são praticados por pessoas da própria comunidade escolar. Por isso, segundo o governo do Estado, o Observatório da Segurança Pública da SSP dará início a análise aprofundada dessas ocorrências.
Onde ocorreram os ataques
Coordenadoria Regional de Educação Ocorrências - 2017/1 Ocorrências 2018/1
DPA (Capital) 21 10
2° São Leopoldo 42 73
3° Estrela 2 6
4° Caxias do Sul 3 11
5° Pelotas 2 3
6° Santa Cruz 4 19
7° Passo Fundo 0 21
8° Santa Maria 6 1
9° Cruz Alta 23 16
10° Uruguaiana 2 6
11° Osório 2 1
12° Guaíba 1 19
13° Bagé 25 43
14° Santo Ângelo 6 2
15° Erechim 11 6
16° Bento 5 6
17° Santa Rosa 1 5
18° Rio Grande 6 3
19° Livramento 1 3
20° Palmeira 0 1
21° Três Passos 10 14
23° Vacaria 0 4
24° Cachoeira 15 1
25° Soledade 3 3
27° Canoas 2 4
28° Gravataí 6 3
32° São Luiz 2 3
35° São Borja 1 7
36° Ijuí 3 0
39° Carazinho 1 3
Total 206 297