Em frente à capela onde se despedia precocemente da sua primogênita, na manhã desta segunda-feira (4), Rosane Pereira da Silveira Coitinho, 47 anos, tentava compreender os motivos que resultaram na morte de Alda Juliane da Silveira Coitinho, 29 anos. A motorista, que ficou desaparecida por quatro dias, teve o corpo reconhecido no domingo (3) pelos familiares. O cadáver, ferido por pelo menos um disparo na cabeça, foi encontrado em Viamão, na Região Metropolitana, município onde ela residia.
Antes de atuar como motorista de aplicativo, Alda Juliane trabalhou como taxista por cerca de três anos em Porto Alegre. Segundo a família, sempre preferia circular durante a noite.
— Ela não tinha medo. Pensava que nada ia acontecer com ela — lamenta Rosane.
A assessoria da Uber informou que a motorista não fazia corridas para o aplicativo desde fevereiro. Rosane diz que, além do aplicativo, a filha costumava atender pessoas indicadas por amigos. Alda Juliane fazia corridas principalmente na zona leste de Porto Alegre, como nos bairros Partenon, São José e Campo da Tuca.
— Ela tinha muitos conhecidos. Nunca teve medo — diz a mãe.
A porto-alegrense morava sozinha há cerca de cinco meses na Lomba do Sabão, em Viamão, no mesmo terreno da residência de um familiar. Antes disso, no entanto, residiu em Porto Alegre. Cresceu no bairro Nonoai, junto com os pais e um irmão. Quando o pai faleceu, há sete anos, a mãe mudou-se para outra casa e a jovem seguiu residindo na casa da família.
— Ela optou por ficar. Tinha muitos amigos no bairro. Conhecia todo mundo — conta a mãe.
A motorista chegou a cursar administração na Faculdade Porto-Alegrense (Fapa), mas deixou o curso quando faltava cerca de um semestre para concluir. A mãe conta que ela pretendia passar a trabalhar como motorista durante o dia para retomar e finalizar os estudos à noite.
— Faltava tão pouco pra ela terminar a faculdade — lamenta.
Rosane relata que a família não imagina o que levou ao fim trágico da primogênita, mas acredita que ela pode ter sido vítima de um latrocínio (roubo com morte).
— Acho que pode ter sido assalto, sim. Destruíram o carro dela. O motivo por que fizeram isso não sabemos. Só espero que prendam os assassinos, se não amanhã vai ter outra pessoa passando pelo mesmo.
O corpo da motorista foi sepultado na manhã desta segunda-feira no Cemitério da Santa Casa.
Corpo foi localizado na quinta-feira
O corpo de Juliane havia sido localizado pela Delegacia de Homicídios de Viamão ainda na noite de quinta-feira (31), mesmo dia em que ela desapareceu. No entanto, até este domingo não tinha sido possível identificá-la. O cadáver foi encontrado na Estrada Luís Pinto de Barcelos, um local de pouca movimentação cercado por propriedades rurais no bairro Universal. A mesma estrada liga o município a Porto Alegre pela Lomba do Pinheiro. A vítima tinha, pelo menos, uma marca de tiro na cabeça.
Alda Juliane falou com a mãe pela última vez por volta do meio-dia de quinta-feira. Ela disse que iria tomar um banho e abastecer o carro. Depois disso, não voltou a fazer contato com os familiares. O Siena que ela dirigia foi encontrado no bairro Restinga, em Porto Alegre, no sábado. O carro, que estava na Estrada do Barro Vermelho, estava parcialmente incendiado, sem as rodas e sem o rádio. O celular e os documentos da motorista não foram encontrados. O veículo foi encaminhado para perícia.
No domingo, ao serem informados de que um corpo havia sido localizado na quinta-feira, em Viamão, familiares da motorista foram até o Departamento Médico Legal (DML), em Porto Alegre, onde identificaram o cadáver. Segundo a Polícia Civil, a principal linha de investigação neste momento é de homicídio, mas não se descarta que possa ter ocorrido um latrocínio.
O que diz a Uber:
A assessoria da Uber encaminhou uma nota, na qual lamenta o ocorrido e confirma que Alda Juliane trabalhou como motorista para o aplicativo. A nota, no entanto, alega que ela realizou a última corrida em fevereiro. Confira na íntegra:
"A Uber lamenta profundamente que cidadãos sejam vítimas da violência urbana que permeia nossa sociedade. Alda Juliane não realizava viagens por meio do aplicativo da Uber desde fevereiro, portanto o crime não tem qualquer relação com sua atividade na plataforma da empresa."