Donald Trump assumiu a presidência dos Estados Unidos pela segunda vez nesta segunda-feira (20). Com o retorno dele ao poder, voltam também diretrizes que estiveram presentes no primeiro mandato e impactam a política monetária de outros países, como o nacionalismo econômico, com foco no protecionismo, em cortes de impostos e aumento nos gastos com infraestrutura e defesa.
Sob este cenário, analistas esperam uma pressão inflacionária maior nos EUA, por conta do crescimento da demanda interna gerado pelos cortes de impostos e aumento dos gastos públicos. Com preços em alta, o Federal Reserve (Fed) — banco central norte-americano — deve de ser mais cauteloso na redução do juro, o que atrai mais investidores ao país, conforme analisou a colunista Marta Sfredo, de Zero Hora.
No caso do Brasil, segundo a B3, a Bolsa de Valores de São Paulo, a percepção do mercado é de que o dólar tende a se valorizar ante o real e outras moedas, impulsionado por expectativas de um crescimento mais rápido da economia dos EUA e de um ambiente mais favorável a investimentos internos.
Com o dólar no patamar acima dos R$ 6 por mais tempo, a tendência é de que o preço de combustíveis, alimentos e outros itens importados pelo Brasil fique mais caro. Por outro lado, a cotação favorece negócios exportadores e o agronegócio.
Ainda assim, o diretor de Políticas Públicas e Relações Governamentais da Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham), Fabrizio Panzini pontua à colunista Giane Guerra que os problemas domésticos do Brasil, como a discussão em torno do corte de gastos e a crise de confiança no governo, corroboram para a desvalorização do real.
Guerra das tarifas e a pressão inflacionária
Donald Trump frequentemente menciona uma imposição de tarifas que aumente a competitividade de americanos diante de players externos. Ao longo da campanha eleitoral, o republicano chegou a declarar que irá implementar tarifas de 25% sobre produtos do México e Canadá e de até 60% sobre produtos da China.
No mandato anterior, Trump impôs tarifas pesadas em produtos chineses, como aço, alumínio e bens eletrônicos – e agora a tendência é de que ele retome essas diretrizes.
Trump também prometeu tarifas de 10% sobre todos os produtos importados pelos EUA, pressionando até mesmo o bloco econômico da União Europeia a renegociar acordos comerciais.
O cenário, de acordo com a B3, deve gerar um aumento nos preços de produtos importados para os consumidores americanos, tendo impactos diretos, especialmente em tecnologia, automóveis e bens de consumo.
A queda de braço entre Estados Unidos e China e o impacto nas ações brasileiras
Apesar dos sinais mais positivos, o risco de escalada da guerra comercial entre Estados Unidos e China segue no radar, segundo o Banco do Brasil. E, sob esse aspecto, o investidor deve ficar atento a ações de companhias exportadoras, de setores como de mineração, siderúrgico, frigoríficos e produtores de celulose, que estão intimamente ligadas à China.
A composição do Ibovespa, índice de referência, ajuda a explicar a relevância da economia chinesa para algumas das principais empresas listadas na B3.
A ação ordinária da Vale (VALE3), que possui o maior peso dentro do Ibovespa, tem total correlação com a China. O país asiático é o maior consumidor de minério de ferro do mundo e principal comprador de produtos da mineradora. Além da Vale, outra mineradora com ações na B3 é a CSN Mineração (CMIN3).
Junto delas estão as siderúrgicas CSN (CSNA3), Gerdau (GGBR4) e Usiminas (USIM5), também afetadas pela China, pois o aço que elas produzem é matéria-prima para a indústria e o setor imobiliário do país asiático.
A mesma lógica se aplica às exportadoras de papel e celulose Suzano (SUZB3) e Klabin (KLBN11), e às produtoras de proteínas JBS (JBSS3), Marfrig (MRFG3), Minerva (BEEF3) e BRF (BRFS3). A China é o primeiro país de destino das exportações de celulose do Brasil e o principal comprador de frango nacional.
Relações comerciais com o Brasil
Com o republicano voltando à Casa Branca, as relações comerciais com o Brasil devem ser afetadas.
O agronegócio brasileiro deve sentir o impacto das tarifas e barreiras comerciais.
Em um cenário de uma eventual nova guerra comercial entre EUA e China, o Brasil pode levar vantagem. Se os EUA impuserem tarifas sobre produtos chineses, a China pode buscar alternativas no Brasil, o que poderia aumentar a demanda por produtos agrícolas brasileiros, como soja, milho e carne.
— Em 2024, a China importou bem mais do que precisava e importou do Brasil. Diminuiu muito as importações americanas e aumentou muito as importações brasileiras, justamente para fazer estoque, para se preparar para dar resposta aos EUA. E olha que o Trump era só um candidato — disse o economista-chefe da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), Antonio da Luz, à colunista Gisele Loeblein, de Zero Hora.
Na contramão, a postura protecionista de Trump pode reduzir o acesso do Brasil ao mercado norte-americano, especialmente olhando para produtos como carne bovina, açúcar e etanol.