O dono da Lotus Elise Supercharged apreendida pela Polícia Civil na terça-feira (26), junto com outros 46 veículos supostamente usados para lavagem de dinheiro, diz ter documentos que comprovam que ele e seu filho compravam o veículo de forma lícita em 20 de julho do ano passado. José Antônio Bertaco Gonçalves, 52 anos, afirmou que é sócio da mecânica no bairro Vila Nova, zona sul de Porto Alegre, onde o automóvel foi apreendido, e apresentou a GaúchaZH cópias da documentação do esportivo, que ele pretende entregar espontaneamente à Polícia Civil nesta quinta-feira (28).
Gonçalves nega relação com a quadrilha investigada e diz que o veículo entrou na mira da Polícia Civil por conta da atuação de um antigo proprietário. Segundo ele, o veículo custa em torno de R$ 300 mil, e não R$ 498 mil como foi informado pelos responsáveis pela investigação.
A Delegacia de Roubo de Veículos do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) investiga desde julho de 2017 uma organização criminosa com 62 integrantes que rouba, clona e desmancha veículos, principalmente em Porto Alegre. O grupo também é suspeito de revender os veículos e peças em oito pavilhões clandestinos ou por meio de lojas virtuais, além de lavar dinheiro com bens de luxo e ainda aplicar golpes em instituições e no comércio.
Ao todo, 33 suspeitos foram presos na operação, mas alguns integrantes seguem foragidos. É o caso de Rudimar Severo Alves, morador da Vila Areia, na zona norte da Capital, antigo proprietário da Lotus. No entanto, o delegado Gustavo Rocha, do Deic, destaca que há provas suficientes de que Alves seria apenas um laranja de um dos barões do crime, Bruno Cassol.
Cassol está preso desde o início do ano e teria adquirido o carro com recursos ilícitos, com o objetivo de lavar dinheiro. O automóvel ficava em posse de Rudimar, que inclusive cometeu várias infrações de trânsito. Depois, Cassol usou o carro para dar como entrada, junto com uma Land Rover e mais R$ 110 mil em dinheiro, na aquisição de um imóvel. Foi a pessoa que vendeu a casa para Cassol quem, posteriormente, revendeu a Lotus para José Antônio e seu filho, Ygor Gonçalves.
Pai e filho são sócios de uma mecânica especializada em turbinas automotivas. Gonçalves disse que deu como entrada dinheiro, um caminhão guincho e ainda uma BMW 545. A compra foi em maio do ano passado, mas a formalização da transferência da posse acabou ocorrendo no dia 20 de julho — apenas 10 dias depois de a polícia ter iniciado a investigação contra o grupo de Cassol.
Ao mostrar à reportagem fotos que mostram o veículo, Gonçalves relata que comprou o carro com problemas no motor e na caixa de câmbio. Ele ainda pagou nesta semana o IPVA da Lotus, em torno de R$ 6,5 mil, e informou que vai colocar o carro à venda depois de tudo que ocorreu.
— Na época em que compramos, inclusive, pagamos mais de R$ 6 mil em multas. E digo que este tipo de carro só tem quatro no Brasil, e não três exemplares no RS, como está sendo divulgado — ressalta o proprietário.
Gonçalves diz já ter entrado em contato com a polícia e ressalta que pretende apresentar espontaneamente toda a documentação nesta quinta-feira. O delegado Rocha disse que está em investigação até sexta-feira desta semana e que a partir da próxima segunda-feira (2) vai ouvir Gonçalves e o intermediário que adquiriu o veículo de Cassol e o revendeu. A polícia ressalta que os carros apreendidos não eram roubados, somente foram adquiridos pela quadrilha com dinheiro obtido nos roubos e golpes, por isso lavagem de dinheiro. No entanto, se comprovada a boa fé na negociação, a restituição a Gonçalves será providenciada imediatamente junto ao Poder Judiciário.