Os primeiros versos da música eram simbólicos: "...atravessa a Osvaldo Aranha, entra no Parque Farroupilha...". Quem entoava "Amigo punk", sob aplausos, eram os amigos do vendedor Luiz Fernando Schilling da Silva, 29 anos, em seu funeral, no Cemitério Municipal de Novo Hamburgo, na manhã desta terça-feira. A música, que é uma ode à vida noturna nos arredores do Parque da Redenção, desta vez, simbolizava a perda – pelo menos para os amigos do Luiz Fernando – de mais um símbolo da Capital para a violência.
– Eu criei meus filhos amando a Redenção. Era, para mim, um símbolo de Porto Alegre e um lugar onde todos deveriam compartilhar a paz. Hoje, aquele lugar se tornou um símbolo de tristeza e da decadência da nossa sociedade – desabafou o aposentado Julionir Correia da Silva, 60 anos, enquanto se despedia do filho.
Luiz Fernando foi a 31ª vítima de latrocínio na Capital este ano. No mesmo período do ano passado, 18 pessoas haviam sido mortas em assaltos em Porto Alegre. A alta de 72% foi concretizada por criminosos usando faca, entre o espelho d´água e a Avenida Osvaldo Aranha, no Parque da Redenção.
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O vendedor, a irmã Franciele, de 25 anos, um amigo e uma amiga, que haviam participado da Parada Livre no domingo cruzavam o parque por volta das 23h para buscar suas motos e irem embora quando dois jovens passaram por eles e voltaram. Eles teriam sentido que aconteceria um assalto.
– A minha filha chegou a entregar o celular para eles. Entregaram até o dinheiro do bolso, mas pareciam que esses assaltantes não se contentavam. Queriam algo a mais – comenta o pai.
Um dos criminosos teria partido para cima de Franciele, e aí, Luiz Fernando, que nunca se envolveu em nenhuma briga ou confusão, cumpriu o que todos estavam acostumados a vê-lo fazer: proteger. Defendeu a irmã, e acabou atingido por uma facada no peito.
– Roubaram o bem mais precioso que um pai pode ter. Levaram a vida do meu filho. Eu só espero agora pela justiça divina, porque na nossa, está difícil de acreditar – desabafa Julionir.
Pai de dois meninos, de dois e quatro anos. Eram a sua maior alegria.
– Ele fazia de tudo pelos guris, mesmo separados, eles eram a razão de viver do Fernando. Nunca perderam o contato. Agora nesse próximo final de semana eles ficariam com o pai. Está complicado explicar o que aconteceu – lamenta a ex-companheira Caroline Salatti, 25 anos.
Vendedor em uma distribuidora de massas na Região Metropolitana, Luiz Fernando morava com a avó em Canoas. No domingo, aceitou o convite da irmã para ir à Parada Livre. Não era nada fora da rotina frequentar a Redenção nos finais de semana, como estava acostumado desde pequeno.