
A Brigada Militar afirma que vai abrir um inquérito para investigar uma denúncia de violência contra mulheres durante um evento artístico, que aconteceu no bairro Santana, em Porto Alegre, no último domingo (1º). A informação veio à tona após participantes da 1ª Feira do Livro Feminista, que começou neste final de semana na Capital, publicarem uma nota no blog do evento relatando que foram vítimas de agressões por parte da polícia.
Segundo a nota, cerca de 20 pessoas estavam em um evento artístico na rua Jerônimo de Ornelas quando a Brigada Militar chegou ao local afirmando que foi acionada para conter o barulho. Durante a abordagem, as mulheres afirmam que os policiais foram "extremamente agressivos", e agrediram as mulheres com cacetetes e chutes.
O comandante do 9º Batalhão de Polícia Militar (BPM), tenente-coronel Marcus Vinícius Gonçalves Oliveira, afirma que houve uso de força policial moderada por resistência das participantes do evento. A investigação irá analisar imagens fornecidas pelo grupo e está coletando depoimentos de testemunhas para tirar conclusões sobre a conduta dos brigadianos no caso.
Na tarde desta segunda-feira (2), um grupo de mulheres fez um protesto na Praça da Alfândega, durante a Feira do Livro da Capital, para denunciar as agressões. A reportagem da Rádio Gaúcha tentou contato com as integrantes do movimento, mas não obteve retorno.
O que diz a nota:
"URGENTE! Pedido de solidariedade – Agressão policial durante a FLIFEA
Desde o início da FLIFEA sofremos perseguições e agressões machistas e fascistas, com ameaças, provocações e presenças hostis, que foram constatadas e enfrentadas em cada momento. Mas o que aconteceu nesta noite de domingo (01/11/15) merece uma denúncia específica para apontar a violência estatal que expressa a misoginia institucional que violenta mulheres sistematicamente.
Na noite de domingo, estava acontecendo um ensaio artístico, com a presença de em torno de 20 mulheres, e uma viatura chegou com dois policiais que vieram supostamente devido ao barulho. Eles filmaram e intimidaram as mulheres presentes que estavam falando com eles, o que gerou reações de proteção entre as mulheres, como se organizar para ir embora e filmar a situação. Em seguida chegaram outras viaturas com mais policiais que foram extremamente agressivos e marcadamente racistas desde o início e tentaram deter uma de nós de maneira violenta, o que desencadeou uma série de agressões físicas por parte da polícia das quais nove mulheres ficaram feridas, sendo que quatro gravemente e precisaram de atendimento médico.
Muitas agressões aconteceram de maneira simultânea, havendo inclusive policiais que sacaram armas de fogo – um deles sacou uma arma e ameaçou várias de nós dizendo “eu vou queimar você”. Entre as ameaçadas nessa situação, uma das mulheres inclusive avisou que estava grávida, o que não foi relevante para os policiais. Dois moradores que estavam na praça no momento do ocorrido também foram agredidos com cacetetes pela polícia. As mulheres que estavam com celulares foram alvo específico de agressões, e dois celulares foram roubados pelos policiais. Algumas das mulheres que tentavam fugir eram perseguidas e derrubadas e não conseguiam sair das agressões dos policiais. Caídas no chão, apanhavam com cacetetes e chutes, enquanto outras voltavam pra colocar seus corpos como escudos para tentar protegê-las e tirá-las dali. Essa cena se repetiu sucessivamente, e, em meio a espancamentos com cassetetes, as mulheres conseguiram chegar até as proximidades do Hospital de Clínicas, quando os policiais finalmente se dispersaram.
Em nenhum momento companheiras ficaram para trás, conseguimos nos reunir em segurança para escrever este relato e para chamar a solidariedade de todas as pessoas que possam nos apoiar neste momento. A feira está programada para continuar suas atividades na segunda feira (02/11/15), no mesmo local onde ocorreram essas agressões. Considerando que mulheres chegarão desavisadas do ocorrido, temos que nos fazer presentes e precisaremos de todo o apoio possível. Começaremos o dia com uma roda de conversa sobre essa situação. Precisamos da presença da maior quantidade de pessoas possível para garantir a continuidade da feira nesse último dia. É assim que a gente revida, não nos calando e resistindo juntas, não apenas na disputa pela rua e o espaço público, mas também contra um sistema que não admite a auto-organização de mulheres e que se sente ameaçado pela nossa existência insubmissa. Foi escancarado o acréscimo de ódio que a misoginia teve nesse episódio, e sentimos que isso precisa ser enfrentado pela nossa sobrevivência, por todas nós que vivemos na guerra desse mundo contra as mulheres."