André Zimerman (*) e Emílio Hideyuki Moriguchi (**)
O colesterol é uma substância gordurosa que apresenta diversas funções no corpo humano. Entre os vários tipos de colesterol, o mais conhecido é o LDL, também chamado de "colesterol ruim". Quando em excesso, o LDL é um dos mais destacados fatores de risco para doenças cardiovasculares, assim como a hipertensão e o cigarro. Como o LDL é alvo frequente de debates e controvérsias, é fundamental esclarecer mitos e verdades para que tenhamos maior controle sobre a nossa saúde.
Alimentação saudável sempre é suficiente: MITO
Alguns fatores que influenciam os níveis de LDL, como a alimentação e o peso, estão sob o nosso controle. Por isso, uma dieta saudável é o primeiro pilar no tratamento do colesterol elevado. Por outro lado, existem outros fatores, como a idade e a predisposição genética, que estão além do nosso controle. É por isso que qualquer pessoa pode apresentar níveis elevados de colesterol LDL, mesmo com dieta saudável e peso controlado.
O nível ideal de LDL é 150 mg/dL: MITO
Se você já fez um exame de sangue, provavelmente viu seu colesterol LDL entre 100 e 150 mg/dL, a faixa mais usual entre adultos brasileiros. Mas isso não significa que esse nível é o ideal. O corpo humano foi geneticamente programado para ter um LDL mais baixo, entre 40 e 80 mg/dL, como é observado em populações isoladas e em outros mamíferos. Hoje, os níveis de colesterol LDL geralmente ultrapassam o necessário, e esse excesso de gordura circulante pode se depositar nas nossas artérias e causar problemas.
Remédios não funcionam: MITO
Estudos de alta qualidade comprovam: em pessoas de alto risco cardiovascular com LDL elevado, o uso de medicamentos diminui significativamente a chance de infarto, AVC ("derrame") e morte precoce. As drogas mais conhecidas são as estatinas, como a rosuvastatina, mas novas opções eficazes incluem a ezetimiba e os inibidores PCSK9. O importante é que o benefício é resultado da redução do LDL, e não de uma droga específica. Ou seja, se o paciente não tolerar uma medicação, pode trocar para outra sem comprometer a proteção cardiovascular.
Reduzir demais o LDL é perigoso: MITO
O colesterol é fundamental para o funcionamento do nosso organismo, participando das membranas celulares e da produção de alguns hormônios. No entanto, o corpo consegue produzir e utilizar o seu próprio colesterol. O colesterol LDL que circula no sangue é, de certa forma, um excedente de gordura. Por isso, reduzir drasticamente os níveis de LDL no sangue não traz efeitos colaterais relevantes. Pessoas que têm níveis baixíssimos de LDL, seja por fatores genéticos ou pelo uso de medicamentos, vivem normalmente mesmo com um LDL abaixo de 20 mg/dL. Está cada vez mais estabelecido: em indivíduos de risco, o principal efeito "colateral" de reduzir o LDL é ter menos infartos, menos AVCs, e menos óbitos precoces.
1 a cada 3 brasileiros morre de doença cardiovascular: VERDADE
As doenças cardiovasculares continuam sendo a principal causa de morte no Brasil e no mundo. A prevenção é um desafio: por se desenvolverem de forma silenciosa, o primeiro sintoma pode já ser o infarto ou a morte súbita. A boa notícia é que os principais fatores de risco, como o colesterol LDL elevado e a pressão alta, são detectáveis e tratáveis. Quando controlamos os fatores de risco de forma precoce e intensiva, conseguimos prevenir a maioria das mortes por doença cardiovascular.
Saber o nosso LDL é fundamental para assumirmos o controle da nossa saúde. Medir e controlar o colesterol LDL é uma das ações mais simples e eficazes para uma vida longa e saudável.
(*) Cardiologista e Diretor da Unidade de Ensaios Clínicos do Hospital Moinhos de Vento, pós-doutorado no TIMI Study Group, afiliado à Harvard Medical School.
(**) Cardiologista e professor da Faculdade de Medicina da UFRGS, titular da Academia Sul-Rio-Grandense de Medicina.
Parceria com a Academia
Este artigo faz parte da parceria firmada entre Zero Hora e a Academia Sul-Rio-Grandense de Medicina (ASRM) em março de 2022. Uma vez por mês, o caderno Vida publica conteúdos produzidos (ou feitos em colaboração) por médicos da entidade, que completou 30 anos em 2020, conta com cerca de 90 membros de diversas especialidades (oncologia, psiquiatria, oftalmologia, endocrinologia, otorrinolaringologia etc.) e atualmente é presidida pela endocrinologista Miriam da Costa Oliveira, professora e ex-reitora da UFCSPA.