Uma mensagem que circula pelo WhatsApp afirma que o aspartame – aditivo alimentar usado para substituir o açúcar comum, como em adoçantes, por exemplo – gera falso quadro de esclerose múltipla e faz desenvolver lúpus eritematoso sistêmico (LES). O texto compartilhado cita como fonte o Dr. Mancy Arckle, sem fazer referência à sua formação ou a seu local de trabalho. Basta uma pesquisa rápida para perceber que não há indício de que ele realmente exista. Além disso, não há artigos ou publicações em sites de medicina feitos pelo suposta médico.
Segundo a mensagem, o falso quadro de esclerose múltipla provocado pelo consumo frequente de aspartame leva pacientes a receberem um diagnóstico errado. Mas, para diagnosticar a doença, é preciso avaliar uma série de fatores e fazer diversos exames.
— O paciente precisa ter apresentado algum sintoma neurológico, como alteração na visão, diminuição de força em um dos lados do corpo, entre outros. Depois disso, serão feitos exames complementares, como ressonância da cabeça e da medula. Não há como diagnosticar falsamente uma quadro de esclerose múltipla, ou o paciente tem a doença ou não tem — explica Jefferson Becker, professor de neurologia da PUCRS e presidente do Comitê Brasileiro de Tratamento e Pesquisa em Esclerose Múltipla e Doenças Neuroimunológicas (BCTRIMS).
O neurologista também diz que não há qualquer vestígio ou estudo que relacione o aspartame à doença autoimune. Segundo ele, ainda não se sabe exatamente quais são as causas, mas alguns fatores ambientais durante a infância e a adolescência, como baixa exposição ao sol, tabagismo e obesidade, podem contribuir para isso.
— Uma série de fatores ambientais podem servir de gatilho à esclerose múltipla, mas o aspartame nunca foi incluindo nesta lista. Quem tem uma doença autoimune tem sempre mais chance de desenvolver outra, mas não há relação entre a esclerose múltipla e o LES. É extremamente difícil ter essa combinação — afirma Becker.
Diagnóstico de lúpus erimatoso sistêmico (LES) nem sempre é fácil
Assim como o aspartame não proporciona falso quadro de esclerose múltipla, também não está associado ao desenvolvimento do LES, uma doença inflamatória crônica autoimune que pode afetar um ou mais órgãos do corpo. Apesar de ser conhecida há muitos anos, ainda não há uma única causa específica que possa ser associada ao desencadeamento da doença.
— Os gatilhos conhecidos para o lúpus eritematoso sistêmico variam bastante de pessoa para pessoa. Pode ser desencadeado por exposição solar, predisposição genética e infecções em um indivíduo portador de alterações em seu sistema autoimune. Mas o aspartame, com certeza, não é um deles — diz Fernando Appel, consultor e especialista em reumatologia da Santa Casa de Misericórdia.
O diagnóstico do LES nem sempre é fácil, principalmente em suas formas iniciais, afirma o reumatologista. Os sintomas raramente são iguais de um paciente para outro.
— A maioria das pessoas com lúpus eritematoso sistêmico apresenta pouco ou nenhum comprometimento de órgãos nobres, como coração, rim, pulmão ou sistema nervoso central. Geralmente, o que se observa nas fases iniciais são queixas como fadiga, febre baixa, alterações menstruais, dores articuladas moderadas, manifestação cutânea, como manchas vermelhas na pele, e queda de cabelo. Talvez seja por essa variedade tão grande de sintomas que apareçam boatos — pondera Appel.