Quando o assunto é câncer, o que não falta são receitas das mais variadas, que, supostamente, são capazes de curar os mais de cem tipos da doença. A cada dia, uma nova dica milagrosa surge na internet, entre elas, está a de que o aranto, uma planta conhecida no Brasil como “mãe de milhares”, serve para o tratamento e é capaz de curar o câncer. Será que isso é verdade?
Não, é boato. Originário da África, o aranto é do gênero kalanchoe – composto por plantas suculentas que são encontradas em regiões tropicais e subtropicais – e, por esse motivo, se adaptou bem o clima brasileiro. Em território nacional, o aranto tornou-se popular. Apenas no YouTube, há dezenas de vídeos – alguns deles com milhões de visualizações – que garantem que ele é capaz de curar o câncer.
O oncologista clínico Carlos Eugênio Escovar, da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, garante que a afirmação não é verdadeira. Segundo o médico, o boato vem do fato de que há estudos iniciais, ainda in vitro, que mostram que o aranto tem em sua composição uma espécie de corticoide, o que pode sugerir algum tipo de ação no tratamento de leucemias.
— Mas esses estudos são iniciais, ainda não foram testados em humanos ou animais, por isso a planta não deve ser utilizada como medicamento. Até onde se sabe, pode causar mais riscos do que benefícios — diz Escovar.
De acordo com Maria Gorete Rossoni, bióloga do Centro de Informação Toxicológica do Rio Grande do Sul (CIT/RS), a planta contém em sua composição glicosídeos cardiotóxicos, que são substâncias tóxicas capazes de causar acidentes e efeitos colaterais.
Segundo a bióloga, o uso contínuo de chás feitos com a planta podem causar diversos tipos de sintomas, como náuseas, vômito e dor abdominal. Além disso, pode comprometer o sistema nervoso, ocasionando confusão mental, delírio e alucinações. Também pode atuar nas células musculares cardíacas, alterando os batimentos e oferecendo risco de parada cardíaca, que pode ocasionar a morte.
— Os estudos feitos com o aranto não citam qual dose pode ser tomada sem ocorrer esses riscos, entretanto, sabe-se que seu uso prolongado pode causar intoxicações. Em relação ao câncer, ainda não há um ensaio clínico humano que comprove a eficácia. Não é indicado que as pessoas façam uso deste chá na intenção de curar um tumor, já que há riscos na ingestão — explica Maria.
Portanto, a planta é tóxica e não deve ser consumida. Em casos de acidentes com plantas, deve-se buscar ajuda médica imediatamente. Também é indicado que se guarde um pedação do que foi ingerido para avaliação. Para mais informações sobre compostos e possíveis riscos, é possível ligar para o CIT/RS por meio do telefone 0800-721-3000.