Boatos envolvendo alimentos são frequentes na internet. Enquanto alguns são vinculados a curas milagrosas para doenças como o câncer, por exemplo, outros são vistos como grandes vilões da saúde. Os escolhidos da vez são os que contêm colesterol. Agora, de acordo com a mensagem que circula pelas redes sociais, não prejudicam a saúde e estão liberados para serem consumidos sem peso na consciência. Mas, antes de sair por aí comendo carnes, queijos e chocolates como se não houvesse amanhã, saiba que se trata de mais uma mentira compartilhada nas redes.
O colesterol é um elemento essencial para o desempenho das funções do organismo, como produção de hormônios – vitamina D, testosterona, estrógeno, cortisol e ácidos biliares – que ajudam na digestão das gorduras. Está presente no cérebro, no fígado, no intestino, nos músculos, nos nervos e na pele. No entanto, quando em excesso, é prejudicial e aumenta o risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares, por formar placas de gordura na parede das artérias dificultando o fluxo sanguíneo ou até mesmo obstruindo essa passagem.
Por esse motivo, a mensagem comete um erro ao afirmar que colesterol pode ser ingerido à vontade, já que isso não é uma regra para todos os indivíduos. Existem diversos fatores que contribuem para o aumento do colesterol, como tendências genéticas ou hereditárias, obesidade, idade, gênero, diabetes, sedentarismo e pressão arterial alta. Pessoas que apresentam uma ou mais dessas características são, sim, mais propensas a desenvolver níveis elevados de colesterol do que aquelas que mantêm atividades físicas regulares, controlam o peso e não têm diabetes, o que não quer dizer que as mais saudáveis não desenvolvam níveis elevados de colesterol, que ocasionam doenças cardiovasculares.
— Todos os estudos que temos até hoje mostram que o consumo exagerado de colesterol faz mal, aumentando as chances de doenças cardiovasculares. Claro, tudo varia de acordo com o risco que cada paciente apresenta, mas nunca pode haver exagero — explica Guilherme Py, cardiologista da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre.
Isso quer dizer que pessoas que não têm nenhuma doença – como diabetes –, que não fumam, têm a pressão arterial normal e costumam praticar atividades físicas, podem ter uma alimentação menos regrada do que as que apresentam os fatores de risco, mas não significa que, a longo prazo, não possam desenvolver o colesterol alto e as doenças cardiovasculares ocasionadas por ele.
Todos os estudos que temos até hoje mostram que o consumo exagerado de colesterol faz mal, aumentando as chances de doenças cardiovasculares. Claro, tudo varia de acordo com o risco que cada paciente apresenta, mas nunca pode haver exagero.
GUILHERME PY
CARDIOLOGISTA DA SANTA CASA DE PORTO ALEGRE
— É preciso controlar o que se come para evitar a obesidade, que proporciona o aumento do colesterol e ocasiona outros problemas. Se o indivíduo é saudável, não fuma, tem pressão arterial normal e não é diabético, não tem problema comer um pouco a mais. Mas daí as pessoas se perguntam: “Posso comer tudo e não vou ter nada?”. Vai, mas será por conta do excesso, que levará à obesidade, proporcionando pressão alta, colesterol elevado e diabete, que causarão possíveis problemas cardiovasculares — afirma Paulo Leães, chefe do serviço de cardiologia clínica da Santa Casa.
Sendo assim, a melhor maneira para manter a saúde em dia é praticar atividades físicas, manter uma alimentação balanceada e saudável para evitar a obesidade e, claro, ficar bem longe de qualquer tipo de excesso.