A ciência pode estar mais perto de ter um anticoncepcional masculino de alta eficácia, mas pesquisadores ainda querem mais testes para atenuar os efeitos colaterais relatados por participantes dos estudos. Uma injeção testada em mais de 300 homens mostrou que tem efeito contraceptivo tão eficaz quanto os métodos já utilizados pelas mulheres.
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Uma pesquisa publicada no dia 27 de outubro no periódico científico Endocrine Society's Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism mostrou que o método foi efetivo para 96% dos participantes que fizeram uso contínuo e chegaram à etapa do estudo que atestava a eficácia das injeções. O medicamento reduziu o número de espermatozoides de 274 dos voluntários em 24 semanas de uso. Ao todo, participaram 320 voluntários entre 18 e 45 anos.
O estudo foi conduzido de 2008 a 2012, mas os pesquisadores interromperam o recrutamento de homens voluntários em 2011 devido aos efeitos colaterais da injeção. Entre os participantes, foram relatados casos de depressão, desordens do humor, dor no local da aplicação, desconfortos musculares, acne e aumento na libido. Dos 1.491 sintomas notificados, os pesquisadores dizem que quase 39% não estavam relacionados às injeções. Dos participantes, 20 desistiram dos testes devido às reações colaterais mas, mesmo assim, 75% dos voluntários afirmam que usariam o método contraceptivo.
"É necessário fazer mais pesquisas para avançar esse conceito até o ponto que esse método contraceptivo seja amplamente disponível para os homens. Apesar das injeções serem eficazes em reduzir as taxas de gravidez, a combinação de hormônios precisa ser estudada para se conseguir um avanço entre o equilíbrio de eficácia e segurança" afirmou Mario Philip Reyes Festin, membro do departamento de pesquisas em reprodução humana da Organização Mundial da Saúde (OMS) e um dos autores do estudo à publicação do Endocrine Society, uma organização internacional de endocrinologia.
Contraceptivos femininos ainda são controversos
Os métodos contraceptivos femininos também estão sob a lupa dos médicos. Embora seja considerado seguro, tenha uma taxa de eficácia de 91% e seja utilizado por cerca 100 milhões de mulheres em todo o mundo, segundo dados da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), o anticoncepcional oral feminino ainda é um tema controverso. Em setembro, o relato de uma universitária de São Paulo que foi parar na UTI em função de uma trombose venosa cerebral que, segundo os médicos que a atenderam, pode ter sido provocada pelo uso da pílula, tomou conta das redes sociais e da mídia.
No começo deste ano, um estudo publicado no Journal of the American Medical Association (JAMA) com mais de mil mulheres verificou que o uso de métodos contraceptivos hormonais, especialmente entre adolescentes, estava associado também ao uso de remédios antidepressivos e diagnóstico de depressão.