Um Fusca 1985 dourado voltou a ser protagonista de uma história de superação e solidariedade. Mais de 16 meses depois de iniciar uma campanha para custear o tratamento contra um linfoma de Hodgkin nos Estados Unidos, o gaúcho Leonardo Konarzewski, 22 anos, segue arrecadando fundos para dar continuidade ao acompanhamento médico no Exterior.
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Junto da família, ele agora tenta vender 10 mil números de uma nova rifa do veículo, que fora sorteado em abril deste ano e acabou devolvido pela dona do número vencedor.Foi movida por uma coincidência que a professora aposentada Marines Beal, moradora de Bento Gonçalves, comprou dois números do sorteio. Também mãe de um "Leonardo", ela ficou comovida com a história do jovem, recheada de capítulos difíceis e tortuosos, veiculada inicialmente em uma reportagem do Jornal do Almoço, da RBS TV, e repercutida em Zero Hora:
– Eu disse "vou ajudar esse menino porque tenho três filhos também". Nem pensei. Entrei na internet, acessei o banco em casa mesmo e comprei imediatamente.
Passados alguns dias do sorteio, realizado em 13 de abril deste ano, Marines precisou procurar um e-mail antigo e deparou com uma mensagem de Telmo Konarzewski, irmão de Leo, informando do prêmio.
– Comentei com todos os meus filhos e até brincamos que iríamos deixar o carro para o meu neto Lucas, que hoje tem cinco anos. Depois, começamos a conversar no grupo do WhatsApp e um deles disse "vamos devolver o Fusca para o rapaz". Todos concordaram, foi unânime – relata.
Marines, então, desceu a Serra acompanhada do marido para, supostamente, receber as chaves e documentos do veículo. O que era para ser uma despedida do carro para a família Konarzewski teve um desfecho inesperado.
– Foi muita felicidade ela ter devolvido o Fusca. Nós não esperávamos. Ela pegou todos nós de surpresa – relembra Leo.
Apesar de ter recebido uma enxurrada de mensagens positivas após ter a decisão tomada pública, Marines não acha que fez algo excepcional:
– Não achei que fiz nada de muito extraordinário. Fiz como mãe, como pessoa, porque me compadeci da situação dele.
Tratamento deve durar mais quatro anos
Devolvido o Fusca, os Konarzewski resolveram iniciar uma nova etapa da campanha, desta vez, para ajudar nos gastos com as viagens trimestrais para os Estados Unidos. Este procedimento serve para que o jovem receba uma avaliação da médica que o acompanhou até o momento.
– Ganhei a minha segunda vida nos Estados Unidos e sinto confiança de fazer tratamento lá – diz Leo.
Com algumas variações, a família precisa desembolsar entre US$ 4 mil e US$ 5 mil em passagens, aluguel, transporte e alimentação. Fora isso, ainda precisam pagar a Mayo Clinic, com a qual já acumulam uma dívida que ultrapassa os US$ 62 mil. Para dar vazão aos bilhetes, Lourdes e Mário, pais de Leo, estacionam o Fusca todos os dias na Avenida Tulio de Rose, em frente ao Bourbon Country.
Ficam ali da manhã até a noite divulgando a causa com panfletos e faixas. Por dia, conseguem vender uma média de 20 a 30 cupons a um valor de R$ 30. A meta é esvaziar os talões para garantir as viagens pelo período de quatro anos, tempo necessário de tratamento para chegar à cura da doença. Nesse novo sorteio, previsto para ocorrer em dezembro de 2017, são oferecidos, além do veículo, duas camisetas da dupla Gre-Nal.
Relembre a batalha de Leo
Diagnosticado com linfoma de Hodgkin, um tipo de câncer no tecido linfático, Leonardo esgotou as possibilidades de tratamento no Brasil em 2015. Somente uma terapia feita em uma clínica de Rochester, no Estado norte-americano de Minnesota, poderia o salvar. Antes de partir para os Estados Unidos, o consulado americano em São Paulo negou seu visto porque ele não tinha a quantia especificada pela instituição para dar início ao tratamento. Ele precisava de cerca de R$ 50 mil para dar seguimento ao processo.
De volta a Porto Alegre, iniciou uma vaquinha na internet, onde conseguiu o valor e rumou para o Exterior em março. Em abril, a campanha Ajude-me a Vencer o Câncer iniciou a rifa de um Fusca 1985, herança do avô do menino, para dar continuidade aos procedimentos e custear a vida fora. Depois de vários contratempos – como novas cobranças e disseminação da doença pelo corpo do jovem –, finalmente Leonardo realizou o autotransplante de medula óssea em 20 de novembro.
O procedimento foi bancado pelo governo norte-americano. Em 21 de dezembro, Leonardo e a mãe retornaram para o Brasil para passar as festas de fim de ano. Cem dias depois, voltaram aos Estados Unidos. Pelos próximos quatro anos, Leonardo precisará ser acompanhado a cada três meses pelos profissionais dos EUA até a cura completa.