Já que o verão está nos seus últimos dias, nos resta sonhar com as férias de inverno, certo? Pois neste texto conto sobre um sonho particular do meu marido que se realizou no ano passado: levar a família a Portillo, no Chile. Eu bem que queria sol, praia, mas ele, amante do snowboard, tinha planos mais gelados para nós.
A 160 quilômetros da capital chilena, Portillo é um dos centros de esqui mais tradicionais do mundo e o mais antigo da América do Sul. Por isso, já passou por renovações, preservando com elegância a alma e o espírito dos Andes. O hotel, famoso pela paisagem imponente da Laguna del Inca, tem capacidade para apenas 450 hóspedes, o que torna a experiência mais exclusiva, sem filas nos teleféricos ou atropelamentos nas pistas, ideal para quem está dando os primeiros passos na neve. Tanto a escola de esqui quanto a gastronomia ímpar de Portillo têm fama internacional. A estação também tem um trabalho emocionante, que vi de perto, com fundações como a dos Andes Mágico que possibilita aulas às pessoas com deficiência, fazendo da neve uma alegria, uma incrível terapia.
Mas vamos ao que nos conquistou de verdade na montanha mágica de Portillo, o lado quentinho: uma atmosfera que desperta a diversão dos velhos tempos. Toda a filosofia do hotel gira em torno de celebrar a convivência entre os amigos e a família. Para isso, pasmem, desde sempre não há televisão, nem mesmo nos quartos. A grande atração (além da neve, é claro) é se reunir em uma grande sala com lareira. Antes ou após as refeições, todos se encontram nesse espaço para conversar, jogar cartas, jogos de tabuleiro ou, como fizemos, relembrar brincadeiras antigas como a da mímica dos filmes. Ainda para suprir a falta de Discovery Kids ou do Telecine, há quadras indoor, sala de recreação com babás, jacuzzi, oficina de padaria e atividades para adultos como o pub e as degustações de vinhos chilenos.
A temperatura também se aquece do café da manhã ao jantar. É um prazer contemplar as quatro refeições em família (que mais parecem banquetes), em uma sequência de pratos servida sempre pelo mesmo garçom, na mesma mesa. A criatividade do chef impressiona, inclusive nas opções infantis. Centollas, peixes frescos do pacífico, a torta de lúcuma e o suspiro de limão são alguns dos sabores que aguçam o desejo de voltar.
O sonho do meu marido acabou surpreendendo todos, inclusive as crianças, que temiam a falta da televisão. É um destino que carrega sensações de outros tempos, ainda bem vivinhas por lá. Não é à toa que grande parte dos hóspedes retornam. Talvez, o luxo de Portillo não seja a sua estrutura ou as pistas no topo dos Andes, mas, sim, o clima perfeito para se conectar com a família.
Na folga
Alexandra Aranovich: férias sem televisão
A colunista escreve mensalmente no caderno Vida
Alexandra Aranovich
Enviar emailGZH faz parte do The Trust Project
- Mais sobre: