Duzentos e vinte mil homens das Forças Armadas sairão às ruas no próximo dia 13 de fevereiro para declarar guerra ao mosquito Aedes aegypti. No Estado, a expectativa é de que 20 mil militares atuem junto a servidores estaduais e municipais em ações de combate e conscientização.
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O governo vai ainda distribuir repelentes para 400 mil grávidas beneficiárias do Bolsa Família. As medidas foram anunciadas pelo ministro da Saúde, Marcelo Castro, na segunda-feira, pouco depois de ter declarado que o Brasil está perdendo "feio" a batalha contra aquele que define como “o inimigo número 1 do país”.
A afirmação gerou contrariedade no Planalto – por passar a imagem de que o governo não consegue reagir à epidemia da dengue e ao avanço do zika vírus. Mas é verdadeira, na opinião de especialistas.Para a coordenadora do comitê de virologia clínica da Sociedade Brasileira de Infectologia, Nancy Bellei, a calamidade do zika vírus é o preço pago pela negligência em relação ao Aedes aegypti nas últimas décadas:
– Não há novidade na forma de combate. Tudo o que está sendo proposto poderia ter sido planejado e executado há muito tempo. E não será um mutirão de um dia que irá surtir efeito. É preciso um programa de ação continuada, porque as medidas vão perdendo força. E aí não adianta culpar a população pelo fato de 85% dos criadouros estarem nas residências.
Celso Granato, diretor clínico do Grupo Fleury, principal laboratório de medicina diagnóstica do país, também acredita que as ações apresentadas não terão resultados tão cedo. Porém, antes tarde do que nunca.
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– Não se pode criar expectativa. Se pegarmos a história, na década de 1930, o Brasil começou a combater o mosquito por causa da febre amarela e conseguiu resultados somente 30 anos mais tarde. Considerando que os produtos não são tão diferentes, não devemos esperar que os efeitos apareçam tão rapidamente. Provavelmente não teremos grandes impactos neste ano. Mas é preciso começar o quanto antes – avalia.
A falta de continuidade nas políticas de combate ao mosquito, levantada por Nancy Bellei, também é vista por Granato como a principal causa para o estágio "desesperador" a que se chegou.
– Não há muito mais o que se fazer a não ser controlar os criadouros. Só que a tarefa exige continuidade. Diante dos primeiros bons resultados, é preciso que se intensifique ainda mais as medidas. O que se vê hoje é o contrário: se em um ano cai o número de casos de dengue, por exemplo, no próximo se vê também uma redução das ações de combate – afirma Granato.
Chile e Canadá devem ficar livres
O sinal, que já soou no Brasil, é de alerta para todo o continente americano – até agora, mais de 21 países já foram afetados pelo zika vírus. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a falta de imunidade contra a doença será um acelerador da disseminação do vírus, que só não deve se espalhar no Chile e no Canadá, onde não há o mosquito vetor.
De acordo com Celso Granato, diretor clínico do Grupo Fleury, assim como no Canadá, o clima frio do Chile contribui para que o Aedes aegypti não se procrie. No entanto, de acordo com o médico, o país fez a sua “tarefa de casa”: após poucos registros de casos de dengue, foram intensificadas ações de combate que conseguiram erradicar o vetor da doença.
A imprensa chilena reproduz o clima de tranquilidade. Reportagem do jornal Publimetro destaca que o clima árido do país contribui para manter o território a salvo.
Balanço
Conforme o último boletim epidemiológico, divulgado em 20 de janeiro, já foram registrados 3.893 casos suspeitos de microcefalia no país. Do total notificado, 224 tiveram confirmação de microcefalia, e outros 282 foram descartados. Continuam em investigação 3.381 casos suspeitos de microcefalia. No total, são 49 óbitos por malformação congênita, cinco deles confirmados para a relação com o zika, todos na região Nordeste.