Com uma alegria incontida e uma risada que contagia todos na sala de entrevistas, Maria Fernanda Gutierrez diz:
- Mas eu vivi!
A intromissão da menina mexicana de 11 anos se deu no momento em que a mãe, Elizabeth Gutierrez, explicava os motivos que trouxeram a família a Porto Alegre:
- Pesquisamos e descobrimos que aqui se fazia o transplante. Estávamos muito preocupados, porque sabíamos que a expectativa de vida de uma criança com fibrose cística é de no máximo até 12 anos.
A mãe de Marifer, como é chamada carinhosamente a menina, refere-se ao caso da adolescente Sofia, que recebeu, também na Santa Casa, pedaços dos pulmões do pai e de um irmão mais velho.
O cirurgião torácico José Camargo, responsável pelo transplante de pulmão intervivos realizado em Marifer, brincou sobre o riso solto da garota:
- Lembro da primeira vez que ela subiu uma escada correndo e teve um ataque de riso quando chegou em cima. E ela tem uma dificuldade para rir, como vocês mesmo perceberam.
Diagnosticada quando pequena com a doença genética que compromete funcionamento de aparelhos digestivo e respiratório, Marifer tentou tratamento nos EUA.
- Desistiram de fazer o transplante lá porque seria um valor astronômico. Então, descobriram pelas redes sociais uma família cordobesa (de Córdoba, na Argentina) que tinha sido transplantada aqui. Fizeram um movimento enorme de arrecadação de recursos para vir a Porto Alegre - contou o cirurgião torácico José Camargo, responsável pelo transplante de pulmão intervivos realizado em Marifer.
Segundo Camargo, nenhuma pessoa pode doar mais do que uma parte dos dois pulmões para não comprometer a reserva própria de de fôlego. Este tipo de procedimento é realizado na Santa Casa de Porto Alegre, onde outros 36 já foram feitos. O custo é de US$ 120 mil. A família fez campanhas no México e nas redes sociais para conseguir o valor. Marifer recebeu partes do pulmão do pai, Jorge Flores, e da avó, Lupita Flores, em 3 de novembro de 2014.
Após o transplante, a menina ficou até esta sexta-feira no Brasil porque a chance de rejeição crônica até dois anos após o transplante é igual para quem recebeu de familiares ou de doador cadáver. Após esse período, a taxa reduz bastante nos casos de doadores vivos, devido à similitude imunológica.
Marifer ficou com a família em Eldorado do Sul no período. Quando questionada sobre o que mais gostou em Porto Alegre, cita, entre outras coisas, um brinquedo de arvorismo que experimentou em shopping da Capital. Foi a primeira vez que brincou.
- Também gostei muito das paletas mexicanas - completou a menina.
* Zero Hora