"Procurando bem, todo mundo tem pereba, marca de bexiga ou vacina, e tem piriri, tem lombriga, tem ameba...", já disseram Chico Buarque e Edu Lobo, na canção Ciranda da Bailarina, de 1983. Mais à frente, os compositores acrescentam: "Futucando bem, todo mundo tem piolho". Certíssimos estão eles. Os males que tendem a atacar as crianças, na verdade, não escolhem sexo, idade ou classe social.
Pesquisas científicas divulgadas em diferentes publicações buscam comprovar a efetividade do melhor tratamento ou confirmar a prevalência para esses problemas, em sua maioria subnotificados. A ciência patina, e a comunidade médica foge de um consenso sobre qual deve ser o melhor método preventivo contra algumas das moléstias mais comuns da infância.
Estudo divulgado recentemente na renomada revista científica New England Journal of Medicine chama a atenção para a complementação do tratamento de combate a verminoses em crianças de países em desenvolvimento. Participaram de testes na Tanzânia 458 meninos e meninas entre seis e 14 anos. Foi testada a eficácia de quatro tipos de tratamento: somente usando albendazol (droga comumente prescrita para desvermifugação), apenas com oxantel pamoate (droga de uso veterinário para o mesmo fim), combinando as duas substâncias e ainda usando uma única dose de mebendazol (antiparasitário). Os dados mostraram que 450 crianças estavam infectadas com T. trichiura, 293, com A. lumbricoides (lombriga) e 443, com a ancilostomíase.
Depois de um tratamento com a terapia de combinação, 31% das crianças estavam livres de infecções por vermes. O número de ovos dos bichos nas fezes delas diminuiu 96%. A taxa de cura da infecção para a T. trichiura foi significativamente mais elevada com a associação das terapias do que somente com o mebendazol (de 31,2% para 11,8%), tal como a taxa de redução de ovos (de 90% para 75%). O oxantel pamoate sozinho teve baixa eficácia contra a ancilostomíase e a A. lumbricoides. Os eventos adversos, principalmente os mais leves, foram relatados por 30,9% dos participantes.
- O tratamento de combinação resultou em uma taxa mais alta de cura e em uma redução de ovos para a infecção por T. trichiura que as taxas da terapia padrão - garante a autora principal do estudo Jennifer Keiser, do Instituto Suíço de Saúde Pública e Tropical.
Novas recomendações
Os resultados positivos com a combinação de terapias levantam mais uma vez a questão de qual seria o melhor tratamento contra as verminoses. Atualmente, a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é de uma rotina de desvermifugação a cada seis meses em crianças a partir de um ano até aproximadamente 12 ou 13. O remédio mais recomendado tem como princípio ativo o albendazol, mas essa não é uma regra.
Pediatras chamam a atenção para o fato de que a variedade de parasitas que potencialmente podem contaminar o ser humano é incontável, e o tipo de medicamento a ser ministrado pode variar. A antiga prevenção por meio da ingestão do remédio também começa a caminhar em direção contrária às mais novas recomendações médicas, que colocam em dúvida o tipo de estratégia que necessita da ingestão da terapia mesmo sem a confirmação do diagnóstico.
Antes do tratamento, descobrir o tipo de verme que infecta a criança para que seja apontada a terapia mais indicada também não é tarefa simples. Precisa-se da repetição do exame de fezes três semanas depois.
- É difícil fazer um diagnóstico. Em um exame normal, metade dos casos vai passar batido, não vai aparecer - explica o médico de família e comunidade Luciano Nader, membro da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade.
Os sintomas também podem passar despercebidos até que a situação tenha realmente se agravado. Eles são pouquíssimos quando relacionados aos vermes mais comuns. A menor prevalência de verminoses em adultos se baseia primeiramente nesses cuidados de higiene pessoal, que tendem a ser mais rigorosos quando a pessoa envelhece. Segundo Nader, porém, é possível que muitos estejam caminhando por aí com vermes no intestino, sem apresentar sintomas:
- Como o organismo é maior, ele demora mais para sofrer alguma consequência.
O especialista explica ainda que as repercussões são maiores nas crianças pelo tamanho físico delas.
- O parasita tem um tamanho fixo. Então, imagine que o impacto de cem lombrigas em um bebê de um ano é muito maior que em um adulto de 70 quilos - esclarece.