Minha filha mais velha tinha uns três meses quando, em uma consulta de rotina, o pediatra Ariel Freitas salientou a importância de momentos a sós na vida do casal. Entre fraldas, mamadas, cólicas e noites maldormidas, sua sugestão, para o nosso bem-estar e o do bebê, era de que deveríamos encontrar uma brecha para namorar (ou respirar!).
Anos se passaram, e o tempo livre foi ficando cada vez mais escasso com dois filhos no currículo. Mesmo assim, sempre que possível, buscamos seguir a sábia recomendação médica, dando nossas escapadas por aí: cinema, restaurantes, festas e viagens a dois. Viagens que, até meados de 2013, foram curtas e próximas de casa quando excluíam os filhos do roteiro. Mas eis que, no ano passado, surge um convite do Turismo de Emilia Romagna à Rede Brasileira de Blogueiros de Viagem, da qual faço parte. Num vapt-vupt, trocamos nossas milhas e partimos rumo ao sonho da lua de mel na Itália. Onze dias longe dos filhos.
Desembarcamos em Milão, onde pegamos o carro e fomos dirigindo até o mar mediterrâneo da Liguria. O check-in em Rapallo foi agraciado com taças de espumante debruçada sobre a varanda do hotel Excelsior e uma vista do oceano de tirar o fôlego. Em poucas horas, rejuvenescemos 10 anos. Andávamos saltitantes, de mãos dadas, como um casal de adolescentes. Apliquei muitos corações em nossas fotos do celular com o aplicativo Lumie. Visitamos Portofino e nos declaramos apaixonados por Cinque Terre.
Emilia Romagna foi o nosso próximo e principal destino. Em Bologna, cidade universitária onde saíamos todas as noites a pé para jantar ou beber, tínhamos o nosso refrão musical "We are young, we are free, feel aaaaalright!" - música da banda inglesa Supergrass a qual demos uma modificada na letra para compor o nosso momento de liberdade.
A convite, dirigimos uma Ferrari no Autódromo de Modena e presenciamos, ao vivo, o Grande Giro dos 50 anos da lendária Lamborghini. Experimentamos o autêntico aceto de Modena e o verdadeiro Parmigiano Reggiano. Nos atacamos nos gelatos feito crianças e tiramos uma soneca após o almoço no banco do Parque Ducale de Parma. Andamos 20 quilômetros de bicicleta pelos Montes Apeninos e almoçamos em uma casa na árvore no Parque Esploraria, onde conhecemos o "menu a km zero" _ um conceito gastronômico interessante que leva à mesa somente ingredientes e produtos produzidos a pouca distância da região onde é consumido.
Foram dias memoráveis que renovaram nosso relacionamento. Sei bem que essa coluna trata de lazer com filhos. Contudo, acredito que a atual geração de pais está valorizando cada vez mais a viagem em família e deixando de lado a intimidade dos momentos só do casal. Algo tão raro em nossa rotina frenética. Tenho certeza de que o maior luxo dos nossos dias na Itália foi o tempo em que estivemos juntinhos, falando bobagem ou cantando pelas ruas. Pais unidos, filhos saudáveis e felizes. Acho que era isso que o doutor Ariel queria dizer lá nas primeiras consultas.