Em muitos longões (corridas mais longas), carrego essa trilha cantada magnificamente por Peter Tosh e Mick Jagger. Isso porque, penso, não importa o que aconteça: olhar pra frente será sempre a melhor das opções. E isso tem a ver com autoconhecimento e, talvez, um pouco de filosofia e psicologia. Será que estou "viajando"?
Explico.
Defendo a teoria de que correr é meditar. Muito mais do exercício físico, a corrida envolve um encontro mental e até espiritual. Por essência, é um esporte individual, característica que, ao meu ver, a tem catapultado, na última década, para o topo do ranking das modalidades mais praticadas no mundo.
Para mim, o que vicia nesta modalidade não é o simples benefício muscular, estético ou cardiovascular. Não há médico que explique. Quem descobre a corrida, descobre uma nova forma de ver o mundo. E é uma maneira simples, mas genuína e intensa, que apaixona tanta gente.
Ao longo de mais de 15 anos de prática da corrida de rua, conheci gente de todo tipo: de atletas profissionais a praticantes de "corridinhas" de final de semana. Em comum, todos eles revelaram nos olhos, brilhantes e energizados, uma sensação de prazer extremo. Me confessaram não saber viver mais sem o prazer do dever cumprido, da planilha executada na íntegra, na alegria de completar essa ou aquela prova. São garotos-propaganda voluntários, fazem questão de compartilhar suas experiências e incentivar aqueles que nunca experimentaram a alegria de uma hora de corrida intensa.
O que mais me alegra, sendo uma atleta amadora dedicada e tão apaixonada por esse esporte, é ver o crescimento em escala geométrica de corredores de norte a sul do Brasil. Graças às redes sociais, tenho me comunicado com gente de todo canto, que me pede dicas, conta histórias inesquecíveis, planeja junto provas ao redor do mundo e vibra a cada conquista.
Percebi que, mesmo não sendo uma atleta de ponta, nem ter vivido profissionalmente da corrida, posso plantar uma semente na cabeça de pessoas que desejam sentir o lado, ao meu ver, mais bacana de ver a vida: com os pés no chão, os olhos no céu e o coração aberto para novos horizontes.
Minha vida em movimento
Daniela Santarosa: A arte de não olhar para trás
Quem descobre a corrida, descobre uma nova forma de ver o mundo
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