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) E as histórias da Aurora envolvem cocô e xixi. Como essa que eu tô me lembrando agora.
Da única vez que eu visitei o Caribe, e as parcelas não estão pagas até hoje, o hotel tinha nos dado o quarto com a pior vista possível. A janela não dava para uma paisagem tosca, nem para uma parede de um prédio, como o conceito de "pior vista possível" pode pressupor, mas para a parte de dentro do centro de convenções do próprio hotel. Não se via o dia, nem o sol, apenas as luzes frias e a decoração mais fria ainda.
Faltando dois dias para irmos embora, resolvi abrir mão de meia dúzia de lambaris verdes e mudar de quarto. Queríamos o melhor quarto agora, com a melhor vista, pelas próximas duas noites. Queríamos dormir com o barulho das ondas, acordar com os pássaros caribenhos cantando "bunno dia". "Então vamos colocar vocês no 809, senhor. É o nosso melhor quarto", disse a atendente. Passado o cartão de crédito (o sistema de pontos sempre me consola nessa hora, apesar de eu até hoje não ter pontos nem para comprar uma batedeira), fomos fazer as malas pra mudança de quarto.
Tudo arrumado, calções de banho e maiôs em sacos plásticos, preciso trocar a fralda da minha filha de um ano, antes de sair. Deitei-a na cama, tirei a fralda com xixi deixando a menina pelada em cima da cama.
Olhei o lenço umedecido em cima do balcão, e nos dois segundos que me estiquei para pegar um lenço ela fez o maior cocô que eu já havia presenciado. Era meio verde, meio preto, e tinha uma consistência pastosa, que não só manchava os lençóis e impregnava o quarto com um cheiro insuportável, como também ameaçava escorregar da cama em direção ao carpete. Olhei para aquele estrago e, por alguns segundos, me desesperei. A gente não tinha como limpar aquilo, seria um serviço para a mais brava das camareiras. Olhei pela janela. Vi o maldito centro de convenções. Vi também um outro cara, que de outra melancólica janela via a minha complicada situação. Ele mexeu os lábios e pude ler o que ele dizia. "Deixa assim." Ele tinha um sorriso de vingança na boca.
Peguei a criança e parti, rumo ao 809.
Se você tem alguma história boa para contar sobre seus filhos, mande pra mim (piangers@atlantida.com.br). Vai ser um prazer compartilhar com outros pais.
Coluna Nossos Filhos/Em casa
Marcos Piangers: Dois segundos de bobeira
Foi o que bastou para minha filha fazer o maior cocô que eu já havia presenciado
Marcos Piangers
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