Quando falamos em estresse falamos de um conjunto de ajustes físicos e mentais necessários para otimizarmos nossa performance corporal e cerebral em momentos mais complicados da vida. Parece algo bom, certo? Certo.
O problema não é o estresse em si, mas a frequência e a intensidade em que acionamos esse sistema alternativo de funcionamento. Quando ficamos estressados, geramos uma cascata de alterações metabólicas aonde, ao priorizarmos a resolução de determinado problema, como efeito adverso abdicamos de uma série de questões não prioritárias naquele momento.
O neurologista Leandro Teles explica algumas alterações geradas nesse momento: o estresse agudo leva a um aumento da pressão arterial e frequência cardíaca. Com isso, o sangue circula mais rápido e os músculos conseguem desenvolver uma performance melhor. As pupilas se dilatam, vemos o todo, com baixa percepção de detalhes e nitidez. O cérebro fica a flor da pele, reduz o limiar de decisão e o foco no problema e distorce a percepção do que não está em jogo naquele momento. Ficamos, ainda, menos sensíveis às mudanças ambientais e a sinais do nosso corpo. Sentimos menos dor ou vontade de ir ao banheiro, por exemplo.
- Existe uma tempestade de dopamina, adrenalina e cortisol no sangue. É um sistema que nasceu para ser acionado apenas de vez em quando - complementa.
Inimigo da saúde
Fica fácil de perceber que o estresse não é um evento sustentável. Na sua forma reacional, intermitente e infrequente ele é saudável. Mais que isso, ele é o colorido da vida, o tempero que permite engolimos nossa insossa existência. Um toque de vermelho no fundo sem graça da rotina e do tédio em que nos enfiamos às vezes. Agora, na sua forma crônica, intensa ou muito frequente, ele vira um veneno.
Segundo Teles, o estresse arrastado e desmedido lesa o corpo e mina as relações interpessoais. Derruba a imunidade, piora completamente o perfil cardiovascular - agravando o diabetes, a hipertensão, o colesterol alto -, descontrola o peso, altera nossa função gastrointestinal, atrapalha o sono, o humor e a performance sexual.
Do ponto de vista neurológico, viver mergulhado no estresse significa perder os detalhes, dar respostas aceleradas e imperfeitas às perguntas que a vida nos impõe. Estressados, percebemos menos o outro, não enxergamos alternativas sutis, somos inábeis e nada criativos. Ficamos mais irritados, impacientes.
- O cérebro estressado não dá conta de um rendimento refinado, diferenciado e em alta padrão. O raciocínio fica mais reflexo, ocorre erros de julgamento e a tomada de decisão fica comprometida, uma vez que prioriza-se os resultados a curto prazo, uma espécie de controle de danos - alerta o neurologista.
Como vimos, quem define o risco do estresse é a dose, o tempo e o contexto. Por isso, vale muito a pena observar o seu dia-a-dia e investir bastante em atividade física, atividade de lazer, medidas de relaxamento e repouso. Você colherá os frutos tanto na saúde física como no rendimento cerebral a curto, médio e longo prazos.