
Até o dia em que Yasmin, de oito anos, passou mal no sítio da família, os pais Gleice e Everton Schmitz nunca haviam imaginado que poderia haver algo de errado com a menina. Ela tinha muita sede, urinava constantemente, tinha uma fome além do normal e, mesmo alimentando-se bem, estava cada vez mais magra, chegando a pesar apenas 19 quilos. A mãe acreditava que o emagrecimento era consequência das aulas de natação.
Em março deste ano, ela sentiu tonturas, palpitações, boca seca, enjoo e cansaço. Após um teste de glicemia, veio a surpresa: a garota estava com a taxa de açúcar no sangue altíssima (600 ml/dlm). Levada ao Hospital Infantil Joana de Gusmão, em Florianópolis, veio o diagnóstico: Yasmin é portadora de diabetes tipo 1.
- Para nós foi um susto muito grande, porque nunca imaginamos que Yasmin tivesse algum problema de saúde. Não sabíamos praticamente nada sobre diabetes e precisamos aprender a lidar com a doença de um dia para outro. Na verdade, foi uma revolução na família - conta a mãe.
Relembrando a infância da menina, Gleice percebe que a filha já apresentava alguns sintomas há mais tempo, como sede, fome e urina em excesso. Só que ela não sabia que estes poderiam ser sinais da doença.
Yasmin cresceu comendo doces, bolachas recheadas, refrigerantes e chocolates. Hoje, a alimentação da menina - e também de toda a família - é totalmente saudável. No lugar das guloseimas, frutas, sucos, saladas, carnes magras e grãos integrais. A irmã de Yasmin, Maria Alice, de dois anos, está aprendendo desde pequena a se alimentar corretamente.
A grande preocupação da família era a volta de Yasmin para a escola, já que ela teria que monitorar o diabetes na sala de aula. Gleice decidiu ir à instituição conversar com a direção e professores, que explicaram aos coleguinhas a situação da menina. O resultado foi muito positivo, e ela não se sente excluída da turma por ser diabética. Participa das comemorações e festinhas, sabendo o que pode e não consumir.
A psicóloga Graça Câmara, coordenadora do Departamento de Psicologia da Sociedade Brasileira de Diabetes, enfatiza que Gleice agiu corretamente. Os pais devem informar a direção da escola, a coordenação pedagógica e os professores diretamente envolvidos com a criança sobre a condição de seu filho e eventuais situações de hispo e hiperglicemia que podem ocorrer. É importante entregar material de orientação por escrito, se possível.
- Manter os professores bem orientados é o caminho mais fácil para recuperar a segurança no momento do filho ir à escola. Além disso, é muito importante manter a criança bem orientada e o mais independente possível - acrescenta a especialista.
Diabetes não escolhe idade
Muitas vezes crianças e adolescentes desenvolvem a doença e os pais têm dificuldade para identificá-la. O primeiro passo, explica o médico Giovani Colombo, orientador do programa de residência em endocrinologia do Hospital Universitário da UFSC, é ficar atento a alguns sintomas, como urina muito frequente, sede em excesso, emagrecimento rápido, fadiga intensa associada a dores musculares intensas, dores de cabeça, náuseas e vômitos. Quando os pais notarem alguma alteração no comportamento do filho, o melhor é procurar um médico.
Entre as crianças e adolescentes, a maior prevalência é da diabetes tipo 1 - aquela em que a produção de insulina do pâncreas é insuficiente, pois suas células sofrem uma destruição autoimune. Os portadores da doença necessitam de injeções diárias de insulina para manterem a glicose no sangue em valores normais.
Já a diabetes tipo 2 é a mais comum (corresponde a quase 90% do total). Segundo Giovani Colombo, ocorre geralmente em pessoas obesas (gordura visceral, na barriga), com mais de 40 anos de idade, embora na atualidade seja cada vez mais frequente em jovens, em virtude de maus hábitos alimentares, sedentarismo e stress da vida urbana. Possui também um componente hereditário muito forte. Neste tipo de diabetes encontra-se a presença de insulina, porém sua ação é dificultada pela obesidade, o que é conhecido como resistência insulínica.
Por ser pouco sintomático, o diabetes muitas vezes permanece por muitos anos sem diagnóstico e sem tratamento correto, o que, segundo o endocrinologista, favorece a ocorrência de suas complicações crônicas. Entre elas, estão problemas relacionadas à visão (comprometimento da retina), aos rins (nefropatias), os nervos periféricos (neuropatias) e impotência sexual masculina. Os diabéticos também tendem a ter suas artérias entupidas mais rapidamente, o que pode causar infartos e AVCs.
- É importante esclarecer que estas complicações surgem quando o paciente diabético não cuida bem de sua saúde e não segue as recomendações. É possível ter uma vida saudável mesmo sendo portador de diabetes- garante o endocrinologista.
Curso de qualificação
Florianópolis irá sediar, de quarta a domingo, a 21ª edição do Curso de Qualificação de Profissionais de Saúde em Educação em Diabetes, promovido ADJ diabetes Brasil e a Sociedade Brasileira de diabetes(SBD). O objetivo do curso, que será realizado no Hotel Mercure Florianópolis Convention, é qualificar e capacitar os profissionais de saúde das áreas pública e privada, associações e ONGS de portadores de diabetes para desenvolverem ações educativas com os pacientes, familiares e cuidadores em geral de diabéticos.
Enfermeiros, nutricionistas, médicos, farmacêuticos, psicólogos, educadores físicos e profissionais de outras áreas que atendem pessoas com diabetes participarão de palestras, dinâmicas de grupo, oficias e discussões de casos, para trocas de experiências. Haverá também uma atividade prática intitulada Educação Social Transformadora que promove a discussão e crescimento de todos com relação aos direitos, acesso ao tratamento e políticas públicas voltadas ao diabetes e hipertensão.
Inscrições pelo site www.adj.org.br
O que é diabetes
- Os alimentos sofrem digestão no intestino e se transformam em açúcar, chamada glicose, que é absorvida para o sangue.
- A glicose no sangue é usada pelos tecidos como energia.
- A utilização da glicose depende da presença de insulina, uma substância produzida nas células do pâncreas.
- Quando a glicose não é bem utilizada pelo organismo ela se eleva no sangue, o que chamamos de hiperglicemia.
-diabetes é a elevação da glicose no sangue.
FIQUE DE OLHO
- A maioria (cerca de 90%) dos portadores de diabetes é do tipo 2, pouco sintomática.
- Por isso, ela pode passar despercebida e retardar o diagnóstico o tratamento, favorecendo a ocorrência de complicações
- A presença das seguintes condições sugerem a possibilidade da presença de diabetes:
Familiares próximos portadores de diabetes, idade maior que 45 anos, excesso de peso ou obesidade, pressão alta, colesterol elevado, mulheres com filhos nascidos com mais de 4 quilos.


