
Um procedimento inédito no Estado para prevenção de acidente vascular cerebral (AVC) foi realizado no Hospital São Lucas da PUCRS, em Porto Alegre, na semana passada, renovando a esperança de pacientes com fibrilação atrial, a arritmia mais comum nos consultórios de cardiologistas.
O objetivo da cirurgia é vedar uma parte do coração de onde se desprendem os coágulos que causam o AVC. Com a colocação desse dispositivo, reduz-se para menos de 2% a chance de ocorrer este acidente, explica o médico Carlos Kalil, responsável pelo serviço de arritmias do hospital, que realizou o procedimento com auxílio de Carlos Pedra, do Hospital Dante Pavese e do Hospital do Coração, de São Paulo.
Atualmente, apenas cerca de mil pacientes no mundo realizaram o procedimento, sendo poucos deles no Brasil (em São Paulo e no Rio de Janeiro).
Segundo o especialista, a fibrilação atrial tem maior incidência em pacientes com idade avançada (acima de 65 anos), e fatores de risco, como hipertensão, diabetes e histórico de acidente vascular cerebral.
Feito com anestesia geral, a cirurgia dura cerca de duas horas e o paciente é liberado após 24 horas. O procedimento ainda é particular, mas a liberação para os planos de saúde já foi encaminhada à Agência Nacional de Saúde (ANS).
Zero Hora - Como funciona este dispositivo?
Carlos Kalil - O Amplatzer Cardiac Plug veda a entrada do apêndice atrial esquerdo e obstrui a passagem de sangue. Com isso, impede que o coágulo formado dentro do apêndice seja expelido para o átrio, caindo na circulação e causando o AVC.
ZH - Este procedimento é indicado para todos os pacientes com risco de sofrer um AVC?
Kalil - Não. O principal medicamento ainda é o anticoagulante. No entanto, em alguns pacientes, com o afinamento do sangue causado por esta medicação, aumenta-se o sangramento. Mas vale lembrar que este tratamento é somente indicado para aqueles que têm chances de ter uma complicação hemorrágica ou para aqueles nos quais o anticoagulante não está surtindo efeito.
ZH - Existe alguma contra indicação para a realização desta cirurgia?
Kalil - A principal contra indicação é caso o paciente tenha alguma infecção ativa dentro do coração ou caso tenha alguma alteração anatômica que impeça a colocação do aparelho. Antes da cirurgia, é preciso fazer um eco-cardiograma para se certificar de que não há um coágulo no coração. Do contrário, ele pode se deslocar na corrente sanguínea e causar um AVC.