O pesquisador do Centro de Estudos Epidemiológicos da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Pedro Curi Hallal, é o líder da série de pesquisas divulgadas na revista The Lancet. O estudo é o primeiro sobre atividade física que utiliza dados de 122 nações.
Zero Hora - Quase 50% dos brasileiros estão no patamar de inatividade física. A que esse alto índice pode ser atribuído?
Pedro Curi Hallal - O Brasil é menos ativo do que a média mundial e menos ativo do que a média dos países em desenvolvimento. As razões são complexas, passam até pela criminalidade, ambiente desfavorável, pobreza e falta de acesso a espaços públicos de lazer. O nível de atividade física das pessoas não é apenas uma decisão individual, depende do ambiente físico e social que circunda a vida das pessoas.
ZH - O que deve ser feito para que esse índice diminua?
Hallal - É urgente que as ações de promoção da saúde tenham maior cobertura. Atualmente elas existem, mas atingem poucas pessoas. Além disso, precisamos de mais do que apenas o setor saúde para lidar com a inatividade física. Precisamos dos setores de esporte, de educação e de transporte. Existem diferentes estratégias que funcionam para aumentar o nível de atividade física da população, como intervenções na educação física escolar - em Recife e Aracaju já existem aulas comunitárias - e programas de divulgação dos benefícios conquistados pelos exercício. O Agita São Paulo é um bom exemplo.
ZH - Uma mudança de hábitos da rotina já seria suficiente para que uma pessoa deixasse de ser sedentária?
Hallal - Vale ir a pé para o trabalho, vale trocar o elevador pelas escadas, vale qualquer coisa que proporcione movimento. O importante também é evitar tempos prolongados sentados. A nossa pesquisa revela que 41,5% dos adultos em todo o mundo ficam mais de quatro horas sentados por dia, e esse é um agravante para os altos índices de sedentarismo. Mas, é claro, exercícios praticados com maior intensidade geram maiores benefícios. O ideal é que, no mínimo, sejam praticados 150 minutos por semana de atividade física.
Entrevista
"As razões passam até pela criminalidade", afirma pesquisador
Pedro Hallal, coordenador da pesquisa divulgada pela revist The Lancet
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