
Estima-se que cerca de 11% da população brasileira adulta tenha o diagnóstico de diabetes. Deste percentual, a maioria tem o tipo 2 da doença. No entanto, um quantitativo ainda desconhecido no país é a prevalência do pré-diabetes, um estágio anterior à patologia, mas que já impõe riscos à saúde.
De acordo com o endocrinologista Luciano Giancaglia, coordenador do departamento de Diabetes tipo 2 e Pré-Diabetes da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), é possível que 22% da população tenha pré-diabetes.
O que é o pré-diabetes?
O pré-diabetes acende um alerta para uma alteração no funcionamento do pâncreas — órgão responsável pela produção da insulina. Esse é o estágio para que o paciente saiba que ele virá a ter o diabetes tipo 2, caso não mude seus hábitos de vida.
Qual o seu risco de desenvolver diabetes tipo 2?
Pré-diabetes já é um sinal de alerta
Enquanto o diabetes é identificado pelas taxas de glicemia no sangue acima de 126 mg/dL, os níveis do pré-diabetes ficam entre 100 mg/dL a 125 mg/dL. Segundo a médica Melissa Barcellos Azevedo, chefe do serviço de Endocrinologia do Hospital Mãe de Deus, de Porto Alegre, a condição é considerada um sinal de alerta, uma vez que já indica um quadro de resistência à insulina.
— O pré-diabetes está dentro de todo um quadro que é subclínico, assintomático e que é a fase mais inicial de processos vão levar no futuro ao diabetes, ao infarto, à doença hepática do fígado, à insuficiência renal e que vai comprometer o próprio pâncreas — destaca a especialista.
O médico Luciano Giancaglia, da SBD, diz que o pré-diabetes é silencioso. Ainda assim, a pessoa fica sujeita à complicações que seriam típicas do diabetes tipo 2, como algum grau de comprometimento da retina, do rim, dos nervos e também das artérias.
— Hoje se sabe que, quando o sujeito tem o diagnóstico de diabetes, ele já perdeu 50% da função das células beta que produzem insulina. No caso do pré-diabetes, o individuo perdeu algo em torno de 20% a 30% da função das células e grande parte dessa função não se reverte — diz.
O que é diabetes?
O diabetes é uma doença crônica que se caracteriza pela incapacidade do corpo de produzir ou utilizar corretamente a insulina, hormônio responsável por regular os níveis de açúcar no sague. A partir disso, a falta ou a resistência à insulina resulta em níveis elevados da substância.
— O diabetes é o comprometimento das células do pâncreas, não é o excesso de açúcar no sangue. O açúcar alto no sangue nos diz que esse pâncreas possui uma falha de funcionamento — destaca o médico Luciano Giancaglia.
O diagnóstico é feito a partir exames laboratoriais, que incluem a medição da glicose em jejum, a dosagem da hemoglobina glicada ou o teste de tolerância à glicose oral. Ao quantificar os níveis de glicose em jejum, por exemplo, há números de referência:
- Índices normais: 70 a 99 mg/dL (miligramas por decilitro)
- Pré-diabetes: 100 a 125 mg/dL
- Diabetes: 126 mg/dL ou mais
Outra forma de avaliar é pela hemoglobina glicada:
- Índices normais: até 5,6%
- Pré-diabetes: entre 5,7% e 6,4%
- Diabetes: acima de 6,5%
Tipos de diabetes mais comuns
- Diabetes tipo 1: é uma doença crônica não transmissível, hereditária. Aparece geralmente na infância ou adolescência, mas pode ser diagnosticada em adultos também
- Diabetes tipo 2: é uma doença metabólica crônica caracterizada pela resistência à insulina e aumento dos níveis de açúcar no sangue. Está associada ao sedentarismo, obesidade e hipertensão
- Diabetes gestacional: ocorre temporariamente durante a gravidez. As taxas de açúcar no sangue ficam acima do normal, mas ainda abaixo do valor para ser classificada como diabetes tipo 2
- Diabetes Latente Autoimune do Adulto (LADA): é uma condição que acomete os adultos e caracteriza-se pela destruição de células pancreáticas devido ao desenvolvimento de um processo autoimune do organismo
- Pré-diabetes: ocorre quando os níveis de glicose no sangue estão mais altos do que o normal, mas ainda não estão elevados o suficiente para caracterizar o diabetes. Quando as mudanças no estilo de vida não forem o suficiente para normalizar a glicose ou quando existe uma alta chance de evoluir para o diabetes tipo 2, há indicação para tratamento com medicamento
*Fonte: Ministério da Saúde
Fatores de risco para o diabetes tipo 2
O diabetes tipo 2 é uma doença multifatorial. Além do histórico familiar, outras situações podem aumentar o risco para o desenvolvimento da condição, como idade, obesidade, circunferência abdominal e sedentarismo.
Há ainda o histórico de doenças cardiovasculares, as taxas elevadas de colesterol e triglicerídeos, o tabagismo, a diabetes gestacional, a síndrome de ovários policísticos, o uso de medicamentos da classe dos glicocorticóides, entre outros.
Tratamento
Após o diagnóstico, o tratamento envolve mudanças no estilo de vida, com a adoção de hábitos mais saudáveis, além de intervenção medicamentosa.
— Não existe cura, existe controle de fatores de risco. O objetivo é voltar a apresentar uma glicemia normal e isso vai depender de como o meu organismo responde a essas medidas. As doenças precisam ser evitadas — adiciona a endocrinologista Melissa Barcellos Azevedo.
Prevenção
Conforme Luciano Giancaglia, da SBD, o pilar da prevenção do diabetes tipo 2 é a mudança de estilo de vida, o que inclui alimentação saudável e atividade física regular. Outras questões são importantes como saúde mental e qualidade do sono.
O especialista ainda reflete que a conscientização deve começar desde a infância. Decisões e atitudes ao longo da vida podem ser determinantes para essas doenças.
É recomendado também que as pessoas realizem acompanhamento regular para averiguar os níveis de açúcar no sangue. Giancaglia destaca algumas orientações:
- Pessoas acima dos 35 anos devem realizar exames de sangue, pelo menos, uma vez por ano
- Pessoas com menos de 35 devem realizar exames de sangue, pelo menos, uma vez ao ano quando possuem algum fator de risco
- Pessoas consideradas de alto risco podem ser orientadas a abreviar a periodicidade da coleta para seis meses, quando o resultado costuma dar dentro da normalidade
* Produção: Carol Dill
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