Um ensaio clínico realizado com um medicamento contra o câncer fez especialistas acreditarem que estão mais próximos de encontrar um tratamento para a esclerose múltipla. Chamada de bexaroteno, a droga foi capaz de reparar os revestimentos em torno dos nervos afetados pela doença. As informações são do jornal britânico The Guardian.
Financiada pela Sociedade Nacional de Esclerose Múltipla (National Multiple Sclerosis Society, em inglês), a droga foi analisada durante a fase 2 do estudo, que utilizou varreduras cerebrais para monitorar alterações em neurônios afetados em pacientes com esclerose múltipla recorrente — estágio inicial da condição, que antecede a doença progressiva secundária, quando os neurônios morrem e causam incapacidade permanente.
A esclerose múltipla surge quando o sistema imunológico ataca por engano a camada protetora de mielina que envolve os nervos no cérebro e na medula espinhal. Sem essa substância, os sinais percorrem mais lentamente pelos nervos ou são interrompidos, o que ocasiona uma série de problemas neurológicos, como distúrbios de equilíbrio, visão e músculos. As varreduras feitas durante a análise revelaram que o remédio restaurou as bainhas de mielina destruídas pela doença.
No entanto, o bexaroteno não pode ser utilizado como tratamento para a esclerose, pois causa efeitos colaterais graves, como doenças de tireoide e elevação dos níveis de gordura no sangue. Por isso, a droga não seguirá para os ensaios da fase 3.
Mesmo assim, os médicos por trás do estudo afirmaram que os resultados são positivos, já que mostram que a “remielinização” é possível em humanos, o que sugere que outros medicamentos ou combinações de medicamentos possam interromper a esclerose múltipla.
— É decepcionante que este não seja o medicamento que usaremos, mas é empolgante que o reparo seja alcançável e isso nos dá grande esperança para outro ensaio que esperamos começar este ano — disse Alasdair Coles, professor que liderou a pesquisa na Universidade de Cambridge.
O novo ensaio citado por Coles irá monitor os efeitos da metformina, um medicamento para diabetes, juntamente com a clemastina, que é um anti-histamínico, contra a doença. A combinação foi apresentada em 2019 pelo professor Robin Franklin, do Wellcome-MRC Cambridge Stem Cell Institute, e é capaz de conduzir a remielinização em animais.
Nos humanos, os pesquisadores esperam que o conjunto de medicamentos ao menos diminua a progressão da doença, considerando que a metformina parece atuar rejuvenescendo as células-tronco no sistema nervoso central, transformando-as em células produtoras de mielina.
— Os resultados deste ensaio nos dão confiança de que os medicamentos que promovem a regeneração da mielina terão um impacto real no tratamento da esclerose múltipla, e esperamos com maior otimismo o resultado dos ensaios futuros — afirmou Franklin.
Os detalhes do estudo foram apresentados no evento MSVirtual2020, uma reunião conjunta do Comitê Europeu para Tratamento e Pesquisa em Esclerose Múltipla e seu homólogo das Américas.
— Encontrar tratamentos para interromper a progressão da esclerose múltipla é nossa prioridade número um e, para isso, precisamos de maneiras de proteger os nervos de danos e reparar a mielina perdida. Esta nova pesquisa é um marco importante em nosso plano para parar a doença e estamos incrivelmente entusiasmados com o potencial que é mostrado para estudos futuros — disse a Dra. Emma Gray, da Sociedade de Esclerose Múltipla.