
O universo dos hormônios femininos ainda é repleto de interrogações. Produzidos pelas glândulas do corpo, eles atuam como mensageiros que regulam o ciclo menstrual, o humor, o sono, a libido, a disposição, a distribuição de tecidos, entre outros.
Circulando pela corrente sanguínea, os hormônios atingem seus órgãos‑alvo e se ligam a receptores específicos – considerados “fechaduras” para suas “chaves” – desencadeando reações que mantêm funções vitais em equilíbrio.
Além do efeito específico de cada hormônio, entender como eles se interligam e como mantê-los em equilíbrio é fundamental na busca do bem-estar físico e mental da mulher.
Quais são os principais
Segundo Ana Julia Carneiro Monteiro, ginecologista especialista em ginecologia endócrina e membro da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do RS (Sogirgs), os hormônios femininos que se destacam são:
— Esses hormônios não atuam apenas na esfera reprodutiva – libido, lubrificação vaginal e desempenho sexual –, mas regulam o metabolismo, a distribuição de gordura, a densidade óssea, o funcionamento cerebral (memória, concentração e humor), o sistema imunológico e a saúde cardiovascular — explica a especialista, que complementa que ainda “são cruciais o hormônio tireoidiano e o cortisol – pilares do metabolismo”.
Sinais de desequilíbrio dos hormônios
Há fases da vida da mulher marcadas por grandes oscilações hormonais, como a puberdade, a gravidez, o pós-parto, o climatério e a menopausa.
Quando os níveis hormonais estão estáveis, a mulher desfruta de bem‑estar físico e emocional. No entanto, qualquer desequilíbrio pode comprometer a qualidade de vida.
Para Carolina Garcia Soares Leães Rech, chefe do serviço de endocrinologia da Santa Casa de Porto Alegre e presidente da SBEM‑RS, os sinais de desequilíbrio mais comuns são:
- Alterações de humor
- Ciclos menstruais irregulares
- TPM intensa
- Infertilidade
- Acne
- Depressão
- Insônia
- Fadiga
- Irritabilidade
- Ansiedade
- Queda de cabelo
- Diminuição de libido
Outros sinais possíveis são excesso de pelos em áreas como rosto ou abdômen, ganho de peso inexplicável, ondas de calor e sudorese noturna – no período da menopausa.
— Dor intensa durante a menstruação, desconforto nas relações sexuais, problemas intestinais ou urinários cíclicos e, em alguns casos, dificuldade para engravidar podem indicar condições como a endometriose. Ter esses sintomas não é normal e, por isso, é fundamental buscar avaliação médica, como endocrinologista ou ginecologista — reforça Carolina.
Também existem questões emocionais, como destaca Patrícia Santafé, médica especialista em endocrinologia e metabologia e medicina interna pela PUCRS.
A parte mental propriamente dita – como ansiedade e depressão – é uma forma de manifestação emocional que pode estar associada à descompensação hormonal, como explica:
— Uma mulher, por exemplo, que esteja muito estressada ou ansiosa pode, sim, alterar o eixo hormonal sexual. E isso pode fazer com que sua menstruação fique irregular, por exemplo. Por isso, tudo deve ser avaliado durante uma consulta médica.
Por serem diversos, os sinais de alterações hormonais exigem interpretação cuidadosa. Cada pessoa pode reagir de modo distinto à mesma condição.
No hipertireoidismo, por exemplo, tremores, palpitações e perda de peso – apesar do aumento do apetite – costumam ser mais característicos, enquanto nódulos na tireoide podem passar despercebidos sem exames apropriados.
— Contextualizar os sintomas é crucial, pois eles podem ser inespecíficos, especialmente em condições como as da tireoide e alterações hormonais — alerta a médica Tayane Muniz Fighera, do Departamento de Endocrinologia Feminina da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).
Nem sempre é preciso recorrer a exames laboratoriais extensos para averiguar o desequilíbrio hormonal, como explica Tayane:
— Não há fórmula de 30 exames que sirva para todos. Solicitamos exames conforme a história clínica e interpretamos os resultados antes de prescrever tratamento. Contextualizar é essencial.
Desmistificando as alterações hormonais
Além dos sintomas, muitos mitos ainda cercam o tema e dificultam o diagnóstico e o tratamento adequado. Entre os mais comuns, estão que a terapia hormonal engorda, que a reposição de testosterona é sempre a solução para a baixa libido e que a pílula anticoncepcional resolve todas as disfunções hormonais.
— As mulheres precisam estar bem informadas e esclarecer essas dúvidas com o especialista, desmistificar e entender de que forma os hormônios são parte essencial do bem-estar — alerta Monica Silva, ginecologista especialista pela Febrasgo e membro da Sociedade Gaúcha de Ginecologia Regenerativa (Sogagir).
Ana Julia Monteiro acrescenta:
— A testosterona não é uma pílula mágica, e a reposição hormonal nem sempre engorda ou causa câncer. Cada tratamento deve ser individualizado, baseado em evidências, e pode ser seguro e benéfico quando bem indicado.
Segundo Carolina Rech, outros equívocos comuns são:
- "Toda mulher precisa repor hormônio na menopausa" – a terapia é opcional e depende de avaliação clínica
- "Anticoncepcional bagunça os hormônios" – ao contrário, regula o ciclo e trata diversas condições
- "Testosterona baixa sempre requer reposição" – níveis naturalmente baixos em mulheres não são, por si só, indicação de tratamento
- "Usar testosterona melhora a libido" – o desejo sexual é multifatorial, envolvendo também emoções, relacionamentos, sono e estresse.
Quais são as formas de prevenção
Um estilo de vida saudável – alimentação equilibrada, atividade física regular, sono de qualidade e redução do estresse – é base para o equilíbrio hormonal e o bem-estar da mulher.
Segundo Mônica Silva, recomendações do Relatório de Atividade Física de 2022 indicam pelo menos 150 minutos semanais de exercício moderado ou 75 minutos de intensidade maior, além de treino de força duas vezes por semana.
— Uma boa noite de sono, de duração aproximada de sete a nove horas, também é um dos requisitos em busca do bem-estar e saúde mental, ajudando a manter níveis hormonais ajustados. Assim evita o ganho de peso e ajuda a prevenir doenças crônicas — afirma Mônica.
A especialista também recomenda uma dieta equilibrada e variada, que favoreça a saúde intestinal, essencial ao equilíbrio hormonal. Combater o estresse crônico, por fim, é fundamental para regular o cortisol e preservar a saúde física e mental.
Patrícia Santafé diz que se não houver uma boa mudança no estilo de vida, isso se refletirá em alterações hormonais que aceleram o envelhecimento:
— O álcool, por exemplo, é muito tóxico para o nosso corpo. O glúten provoca um processo inflamatório maior e, principalmente em meninas que têm a síndrome dos ovários policísticos — ele pode piorar bastante a resistência insulínica e o ciclo menstrual. Da mesma forma, o consumo excessivo de açúcar e doces também interfere: quanto mais insulina temos circulando (por causa do excesso de glicose), mais prejudicada será a produção hormonal. Isso pode agravar quadros como acne e outros problemas de pele, que são queixas frequentes — alerta a médica.
Além disso, o ideal também é evitar o uso excessivo de telas, especialmente à noite, pois elas interferem na liberação de melatonina, hormônio responsável por induzir o sono.
— Todas nós iremos envelhecer, mas a qualidade desse envelhecimento é o que vai nos garantir mais tempo de longevidade ovariana – e isso é fundamental para o equilíbrio hormonal — conclui a médica.