A possibilidade de fechamento do setor materno-infantil do Hospital São Lucas tem gerado protestos de estudantes da Faculdade de Medicina da PUCRS e da comunidade e provocado apreensão entre pacientes e familiares. A reportagem de GaúchaZH circulou pelo local na manhã desta segunda-feira (9) para conferir a situação de quem depende dos atendimentos da instituição pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
A empresária Jaqueline Barbosa Rodrigues Cadigune, 33 anos, ficou sabendo nos corredores de que a filha poderá nascer em outro hospital.
— Tive consulta hoje e ninguém falou nada. Foi uma funcionária que me chamou de canto e me disse que eu poderia ficar sem o parto aqui pelo São Lucas — conta, ao frisar que o 4º andar do hospital, onde fica o setor materno-infantil, estava lotado.
Grávida de 38 semanas, ela e o marido Luís Paulo Cadigune, 38, estão esperançosos de que a filha consiga nascer no Centro Obstétrico da PUCRS.
— Como está perto dela nascer, espero que dê tudo certo. É muito ruim ficar com esse medo justo agora, na reta final — desabafa.
Hipertensa e com uma gestação de risco, Jaqueline fez todo o acompanhamento da gravidez pelo SUS.
— Seria muito difícil trocar de equipe médica agora. Ainda mais conseguir vaga em outro hospital — salienta Cadigune.
Do lado de fora, Vanessa dos Santos Moura, 17, foi pega de surpresa ao saber que o São Lucas poderia ficar sem atendimento pediátrico. Natural de Arroio do Tigre, no Vale do Rio Pardo, ela vem a Porto Alegre duas vezes por mês para garantir atendimento ao filho, Fernando Hidersmann, com dois anos.
— Ele foi diagnosticado com anemia desde um aninho de idade. Faz seis meses que iniciamos o tratamento aqui na PUCRS. O atendimento é maravilhoso. Na minha cidade não tem pediatria, não sei o que vou fazer se perder essa vaga — relata.
Protesto de estudantes
Durante a manhã, acadêmicos do curso de Medicina da PUCRS e funcionários do hospital realizaram uma manifestação na entrada principal da instituição, onde ficam as salas da diretoria. Com cartazes na mão defendendo a manutenção do setor materno-infantil, os estudantes cobravam uma resposta definitiva sobre o fechamento ou não da unidade.
Em entrevista à Rádio Gaúcha, o diretor-técnico Saulo Bornhorst afirmou que o hospital contabiliza um déficit de R$ 200 milhões e o fechamento de alguns serviços é estudado para retomar a sustentabilidade financeira da instituição. Mas ressaltou que o encerramento do setor é uma dentre outras possibilidades, e que um estudo feito em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) deve ficar pronto em um prazo de 60 dias.
— São possibilidade que estamos estudando. Ainda não temos nada definido. Temos equipes trabalhando nisso e devemos ter uma definição em até dois meses — afirma.
De acordo com Bornhorst, o Centro Obstétrico teve, em média, 229 partos mensais no ano passado. Já em 2018, a média foi de quase 280 partos por mês.
— Uma maternidade para ser sustentável e se pagar precisaria realizar cerca de 400 partos mensais em média — afirma.
Questionado sobre as dificuldades financeiras da instituição, Bornhorst reiterou que o hospital precisa “se atualizar” para não correr risco de “suspender outros atendimentos”.
— O São Lucas tem uma importância não só para a saúde de Porto Alegre, mas para muitos pacientes do Rio Grande do Sul e de fora do Estado. Estamos trabalhando para garantir que ele continue tendo essa relevância, principalmente em alta complexidade — declara.
Contrato mantido até definição
Em entrevista à Rádio Gaúcha, o secretário da Saúde de Porto Alegre, Pablo Stürmer, afirmou que está acompanhando a situação e está estudando alternativas para manter a sustentabilidade financeira do hospital. Enquanto isso, o contrato entre a prefeitura e a instituição, para serviços prestados pelo SUS, segue em vigor.
A alternativa proposta pela direção do hospital é fechar o centro materno-infantil e investir em serviços de alta complexidade, como a oncologia. Para isso, a Secretaria Municipal da Saúde estuda como absorver a média de 200 partos mensais realizados pelo São Lucas. A possibilidade seria transferir os atendimentos para o Hospital Materno-Infantil Presidente Vargas, que é do município.