
Passava do meio-dia desta quinta-feira (31) quando um grupo de funcionárias da Santa Casa de Porto Alegre se preparava para um intervalo diferente. Vestindo roupas de ginástica e blusas cor-de-rosa, elas trocaram o almoço por alongamentos, corridas, abdominais, apoios, polichinelos, agachamentos e socos. Muitos socos.
A aula de lutas, marcada propositalmente para o último dia do mês, serviu para lembrar que, mesmo com o fim do Outubro Rosa, não se pode deixar de lado os cuidados com a saúde e com a prevenção do câncer de mama, doença que, em 2017, matou mais de 16,7 mil mulheres, de acordo com dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca).
Com luzes cor-de-rosa, música alta, tatames e uma fila de luvas de boxe encostadas pelas paredes, o Anfiteatro Hugo Gerdau ganhou ares de academia. Assim que chegava ao local, a mulherada corria para vestir as luvas e posar para fotos.
— Cara de brava! — instruía o professor de muay thai Vladimir Akira.
— Não, sorrindo é melhor! — completava.
Antes de começarem as atividades, pararam todas em frente a um painel fazendo pose para a foto entoando o lema da ação: "A luta continua!".
— Essa iniciativa, justamente no último dia do mês, é para lembrar que não é o fim da nossa campanha. Apesar de outubro lembrar a prevenção do câncer de mama, a gente quer conscientizar as mulheres de que o cuidado é necessário todos os dias. Elas precisam saber do risco da doença e quais medidas podem tomar para evitá-la, como hábitos saudáveis de vida, prática de atividades físicas, evitar consumo de álcool e mamografia anual a partir dos 40 anos. Tudo isso é fator de prevenção, que deve ser recordado sempre. A luta continua além do Outubro Rosa — justificou a oncologista Katsuki Tiscoski, que participa das ações do mês temático da instituição.
Animada com o sucesso da atividade que ajudou a organizar, a analista de marketing Vanessa Carvalho, 41 anos, também destacou a importância da ação.
— Nós achamos importante reforçar que o cuidado e a prevenção devem ser feitos sempre.
Socos e suor
Já ofegantes após o aquecimento, as funcionárias partiram, literalmente, para a luta. Tiraram pulseiras e relógios, colocaram as luvas e começaram o treino: pernas afastadas, mãos em frente ao queixo, jab (soco com a mão dianteira) e direto (com a mão posterior), jab, direto. Treinaram a fio no ar até colocarem em prática o aprendizado nos aparadores segurados pelos treinadores. Enquanto uma socava, outras se revezavam entre abdominais ou exercícios para as pernas. A atividade, que durou cerca de 40 minutos, as deixou exaustas.

Participando de uma aula de boxe pela primeira vez, a secretária Veridiana Ribeiro, 31 anos, não se acanhou pela falta de uma roupa específica para o treino. De calça jeans e sapatilha mesmo, encarou o desafio e saiu ensopada da aula.
— Gostei muito. A relação com o câncer de mama mostra que muitas vezes se tem uma dificuldade, se tem barreiras, mas que conseguimos passar por elas — avaliou.
Acostumada com "exercícios leves", a assistente de compras Mirian Santos, 39 anos, saiu mais empolgada do que entrou. Ela contou que sempre quis fazer boxe e se prontificou a participar assim que recebeu o convite.
— Achei o máximo! — resumiu.

Quem também comemorou o engajamento da mulherada foi o treinador de boxe João Fernandes, que também participou da ação.
— Está muito lindo. Elas compareceram para apoiar a causa.
O câncer de mama é o tipo mais comum entre as mulheres no mundo e no Brasil, depois do de pele não melanoma, correspondendo a cerca de 25% dos casos novos a cada ano, diz o Inca. A prática de exercícios físicos, alimentação saudável e a manutenção do peso adequado são alguns dos fatores importantes na prevenção desse tumor.