Crianças internadas na pediatria do Hospital São Lucas da PUCRS, em Porto Alegre, receberam na manhã desta quinta-feira (4) uma visita diferente. Da raça persa, com seis anos de idade e em tons de cinza, Ariel, o gato terapeuta, conquistou os pequenos com seus grandes olhos verdes e lenço amarelo no pescoço farto que convida para um carinho.
Ariel e sua tutora, a fisioterapeuta Thayana Dellagustin, foram convidados para falar com profissionais do hospital sobre cuidados paliativos com terapia assistida por animais. Uma vez por semana, Ariel visita a Associação de Assistência em Oncopediatria (AMO Criança), em Novo Hamburgo. Aos poucos, tem ido a outros locais arrancar sorrisos e suspiros de quem está hospitalizado. Sua página no Facebook tem mais de 800 curtidas, e o reconhecimento só aumenta.
— A proposta desse trabalho é levar, por meio de animais preparados para isso, alívio a pacientes em desconforto por causa de sua condição. O Ariel tem seis anos, e há cinco ele atua comigo — conta Thayana.
A calma e sociabilidade do terapeuta de quatro patas são seus pontos fortes para lidar com crianças. Mas o preparo especial de Ariel não o torna um bicho de pelúcia. Sua tutora explica que, assim como qualquer outro ser vivo, ele tem suas próprias regras e limites.
— Claro que tem certas coisas que ele não tolera, não se pode fazer qualquer coisa com ele. E isso também faz parte do trabalho com as crianças, sobre como se deve respeitar os limites do outro — completa a fisioterapeuta.
Em sua caixa de transporte verde, Ariel se despediu do público adulto no Anfiteatro Irmão José Otão por volta das 9h, após a conversa da sua tutora sobre cuidados paliativos, e foi de elevador com ela até a pediatria. Era lá que estava a turminha que costuma encantar. A chegada ao setor mudou a rotina nos corredores, com adultos de jaleco lotando a sala de recreação para conferir o bichano.
Parece que só tem pelo
— Ai, que fofo! Olha esse pelo! — soltou uma das médicas.
Aos poucos, crianças foram levadas para a sala de recreação, onde conheceriam o visitante. No começo, Ariel preferiu estudar o ambiente de dentro da caixa, ouvindo a voz tranquila de Thayana o deixando à vontade. A própria tutora explicou que ambientes novos impactam o comportamento dos felinos. Por isso, o Ariel que esteve no Hospital São Lucas era bem mais desconfiado do que aquele que frequenta a AMO Criança, em Novo Hamburgo, onde se solta como um velho conhecido.
Mas logo a cadeira de rodas de Sophia, três anos, estava posicionada perto do novo amigo. A menina não conseguiu tirar os olhos de Ariel desde que entrou na sala. Quando o felino se sentiu seguro para dar uma voltinha, Thayana tratou de facilitar a interação entre os dois.
— É muito peludo, peguei ele lá no fundo, mas é só pelo — disse a pequena.
A mãe dela, Carine da Rosa Schmeling, 24 anos, conta que a menina se apaixonou por uma ninhada de gatos que nasceu na casa onde moram, em Sapiranga. Queria ver os filhotinhos toda hora, mas a família teve de doá-los. Agora, diante de Ariel, ela lembrava daqueles gatinhos.
— Graças a Deus, ela fez a última cirurgia. Agora, é esperar a recuperação para voltarmos para casa. Já faz um mês que está internada. Ela fraturou o pé em uma queda de bicicleta, ficou preso na roda, foi bem feio. Foram necessários vários procedimentos — contou Carine.
Outra menina que chegou pertinho de Ariel foi Alexia, seis anos. Ela nunca teve um gatinho, mas isso pode mudar quando voltar para casa graças ao felino terapeuta.
— Achei muito legal o Ariel, mas nunca tive gatinho. Eu peguei ele, é fofo, mas não é tanto pelo assim — falou a menina, no hospital há mais de uma semana para investigar uma febre persistente.
Mas ser terapeuta que mia também cansa. Após ser mimado e de até dar uma voltinha por baixo das mesas, Ariel deu a dica para Thayana de que já estava na hora de voltar para a caixa de transporte. A tutora concordou, e o bichano ganhou a folga merecida após levar um pouco mais de alegria à pediatria do hospital.
Benefícios da terapia assistida por animais
- Desenvolvimento da linguagem corporal
Gestos, postura e expressões faciais são estimuladas no contato com o animal. - Aperfeiçoamento das habilidades visomotoras
O acompanhamento da movimentação do bichinho desenvolve o discernimento entre objetos e a própria visão. - Estímulo das atividades sensoriais
Sentindo a textura, o calor, o cheiro, a pele e as partes do corpo do animal, estimula-se os sentidos. - Ativação da movimentação física
A presença do felino pode gerar nas crianças a vontade de se movimentar, promovendo ativação física espontânea dos músculos.