Os desafios enfrentados no ensino da medicina foi tema do segundo debate promovido pelo Zero Hora Talks em parceria com Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul (Cremers). O evento que aconteceu terça-feira (12), reuniu o presidente do Cremers, Eduardo Neubarth Trindade; o presidente da Associação Brasileira de Educação Médica (Abem), Sandro Schreiber; e o presidente da Atitus Educação, Eduardo Capellari, para discutir as necessidades de qualificação e modernização no ensino de medicina no Estado.
A jornalista Rosane de Oliveira abriu o debate chamando os convidados para repensar sobre a necessidade de formar mais profissionais da saúde ou de implantar mudanças no sistema atual de ensino médico e residências.
— Não precisamos de mais médicos, mas sim de qualificar melhor a nossa assistência e formar profissionais que atendam as necessidades específicas de cada área — destaca Eduardo Neubarth Trindade, presidente do Cremers.
Trindade argumenta que o número de médicos no Estado é comparável ao de diversos países desenvolvidos, como França, Alemanha e Canadá, conforme informações da OCDE e da Organização Mundial da Saúde (OMS). Atualmente, o Rio Grande do Sul conta com 3,4 médicos por mil habitantes. Estes números estão acima da média nacional, que é de 3,07, conforme dados da Demografia Médica no Brasil, realizado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). As informações colocam Porto Alegre como a segunda capital do país em número de médicos por habitante.
— Estamos formando profissionais em excesso, mas é crucial acompanhar a criação de vagas em residências médicas e hospitais-escola que possam absorver esses médicos em sua formação pós-graduada — intervém Trindade.
Quando questionados sobre a falta e a demora de atendimento da sociedade, o presidente da Associação Brasileira de Educação Médica (Abem), Sandro Schreiber, relembra que não há outro país que tenha um sistema de saúde universal como o disposto no Brasil, garantindo o acesso gratuito a 215 milhões de brasileiros.
— Os sistemas de saúde universais em outros países são muito menores que o brasileiro. Além disso, não há outro país que tenha a dualidade do sistema de saúde privado e gratuito que existe no Brasil. O Sistema Único de Saúde atende cerca de 70% da população, enquanto o sistema complementar corresponde a 20% — explica o presidente.
Mesmo com o aumento na quantidade de profissionais, a pesquisa encomendada pelo Cremers ao Instituto de Pesquisas de Opinião (IPO), indica que o tempo de espera para conseguir agendar uma consulta e a falta de médicos aparecem entre as principais reclamações entre os gaúchos. Dessa forma, se torna essencial discutir o sistema e apresentar soluções para ambos os problemas.
— Quando olhamos para as pessoas, vemos que elas seguem na fila aguardando atendimento na maior parte dos lugares do país. Temos, claramente, problemas no sistema. Qualificar, oferecer maior acesso, melhores condições de trabalho e remuneração para os médicos devem ser as nossas prioridades — contextualiza, Schreiber.
O levantamento feito pelo CFM também revelou que as capitais concentram 23% da população do país, mas agrupam 52% dos médicos. No Rio Grande do Sul, a média é de 11,85 médicos para cada mil pessoas na capital dos gaúchos, contra 2,26 observada no interior do RS.
Questionados sobre os desafios na interiorização, o presidente da Atitus Educação, Eduardo Capellari, elabora que a falta de infraestrutura e remuneração atrativa são alguns problemas que devem estar em debate para atrair os profissionais para as cidades do interior do Estado. Além disso, ele também fala sobre a necessidade de estabelecer medidas para a implantação de novos cursos em determinados municípios.
— Talvez o grande problema, que gera o debate, é saber de última hora que tem uma liminar abrindo 100 vagas em medicina sem que ninguém saiba o critério, afinal não foi o Ministério da Educação (MEC) que determinou isso — elabora Capellari.
Pensando a respeito das possíveis soluções, os convidados debatem sobre a necessidade de estabelecer medidas com requisitos mínimos necessários para a abertura de novos cursos. Em outubro desse ano, o MEC em conjunto com o Ministério da Saúde (MS), definiu os critérios para o novo edital com base na estrutura física, capacidade de ensino e proposta de fixação dos profissionais nas regiões onde há carência de médicos.
— Agora o jeito é melhorar os critérios e avaliar os cursos já existentes, além dos que estão por abrir, pensando em uma medicina que é altamente tecnológica, ao mesmo tempo que é humanizada — relata o presidente da Abem.
Para finalizar a conversa, o presidente do Cremers reforçou sobre a importância de a sociedade se engajar na discussão sobre a educação médica para evitar a precarização da saúde. No último evento do Zero Hora Talks com o Cremers, que acontece dia 3 de dezembro, especialistas irão debater as soluções para as problemáticas levantadas, além de realizar um pacto para a saúde até 2035.
Confira abaixo a data do último evento:
3 de dezembro, às 14h
Pacto para o Futuro da Saúde no RS entre 2024 e 2035
Local: CREMERS, Auditório
Rua Bernardo Pires, n° 415/2° andar, Bairro Santana - Porto Alegre/RS
Inscreva-se gratuitamente e acompanhe este movimento pela qualificação do atendimento e acesso à saúde em todo o Rio Grande do Sul!