
Um prédio construído na década de 1940 em Porto Alegre passou a servir de abrigo para famílias atípicas* desde que a cidade foi atingida pela maior enchente de sua história, em maio de 2024.
O chamado "Prédio dos Sonhos" partiu da iniciativa de uma organização da sociedade civil, que conectou empresários e voluntários que ajudaram a reformar 27 apartamentos do edifício de 11 andares.
Esta reportagem, que faz parte da nova fase do movimento Pra Cima, Rio Grande, do Grupo RBS, é a segunda parte sobre o "Prédio dos Sonhos".
Em maio de 2024, durante o auge da enchente, a equipe do Instituto Pertence, responsável pelo espaço, só pensava em ajudar as famílias atingidas. Acostumados a conviver com os desafios dos atípicos, Freiberg e a equipe de cem pessoas começaram a trabalhar.
O desafio inicial era mapear onde estavam essas pessoas nos abrigos. Uma criança autista, por exemplo, costuma ter dificuldade de permanecer em locais com muita gente, barulho, luzes e sem rotina.
Uma criança autista, por exemplo, tem dificuldade de permanecer num abrigo cheio de gente, com barulho, luzes e sem rotina.
Essa era a dificuldade da Dienifer Ayres. Ela o marido, a filha, Luiza, e o filho Pedro, de 3 anos, autista não verbal, perderam tudo.
Eles moravam no bairro Humaitá, na zona norte de Capital, e a casa foi destruída. Não tinham para onde ir.
— Perdemos tudo. A casa ficou inabitável — relembra Dienifer.
Dienifer, que habitava o apartamento 503, também encontrou fôlego no "Prédio dos Sonhos".
Antes de chegar ao prédio, a mãe da Luiza e do Pedro tinha sido acolhida num abrigo do Instituto Colo de Mãe. O local foi montado às pressas, no início da enchente em Porto Alegre e surgiu para auxiliar famílias atípicas.
Foi lá que Dienifer encontrou novo rumo para família.
O filho Pedro, autista nível 3 (trata-se do mais alto), teve acesso a consultas médicas e um caminho para os tratamentos do dia a dia.
Quando o abrigo fechou, o prédio virou o novo endereço.
Depois de 10 meses da primeira visita ao "Prédio dos Sonhos", a reportagem da RBS TV encontrou Dienifer no apartamento temporário que a familia vive até hoje.
Ela e a familia têm um ano para ficar no novo endereço, da zona leste da Capital.
Toda mobília e eletrodomésticos do novo endereço foram doados por empresários e pelo Instituto Pertence:
Hoje, a mãe zelosa planeja o futuro.
— Resiliência, não perder a fé, e acreditar em um novo amanhã. Acreditar que tudo vai acontecer da melhor forma possível — declara Dienifer.

A estrutura e o futuro
O "Prédio dos Sonhos" segue operando e com nova missão.
Depois de acolher mais de 150 pessoas vítimas da enchente, o edifício também vem recebendo famílias do Interior, que precisam de pouso durante situações desafiadoras como tratamentos médicos.
Além disso, o endereço no Centro Histórico tem novo propósito: agora funciona como centro de referência para trazer possibilidades para pessoas com deficiência ingressarem no mercado de trabalho.
Com treinamento de libras e cursos profissionalizantes, a batalha agora é outra: trazer oportunidades de geração de renda para quem sofre com a exclusão.
* Pessoas atípicas são aquelas com deficiência, transtorno ou doença que demande cuidados especiais permanentes.