
Com temáticas que foram de homenagens ao rádio, celebração da cultura nordestina, literatura de cordel e lendas brasileiras, a primeira noite de desfiles do Grupo Ouro, no Complexo Cultural do Porto Seco, em Porto Alegre, encantou o público que tomou conta das arquibancadas.
A Fidalgos e Aristocratas, a primeira a desfilar, fez uma viagem pela história do rádio. A atual campeã, Acadêmicos de Gravataí, exaltou a força do Nordeste, enquanto a Copacabana revisitou um de seus carnavais mais marcantes. Já a Imperadores do Samba encantou com um desfile repleto de mitos e espiritualidade, e a União da Vila do IAPI encerrou a noite homenageando a Império Serrano, escola tradicional do Rio de Janeiro.
Fidalgos e Aristocratas
Era por volta da 00h50min quando a Fidalgos e Aristocratas abriu os trabalhos do Grupo Ouro, defendendo o enredo É Hora de Sintonizar, o Show Vai Começar! Eu sou o Rádio, a Voz do Brasil. O principal homenageado do desfile foi Roberto Landell de Moura, o padre gaúcho que inventou o rádio. A comissão de frente e os integrantes da bateria fizeram alusão ao personagem histórico, considerado por muitos um bruxo. O carro abre-alas adentrou o sambódromo representando o Theatro Municipal do Rio de Janeiro, palco da comemoração do centenário da Independência do Brasil, em 1922, que marcou a primeira transmissão “oficial” do rádio no país.
A Rádio Gaúcha foi lembrada na fantasia do segundo casal de mestre-sala e porta-bandeira. Vozes marcantes como Marlene, Emilinha Borba, Cauby Peixoto, Orlando Silva e Ângela Maria foram reverenciados no carro A Era de Ouro do Rádio no Brasil.
Na ala Vozes de Ouro do Rádio, uma referência a Odir Ferreira, radialista gaúcho que há mais de duas décadas anuncia a entrada das escolas de samba na avenida. Ele começou nessa função quando os desfiles de Porto Alegre ainda aconteciam na Avenida Augusto de Carvalho, na área central de Porto Alegre.
Acadêmicos de Gravataí
Atual campeã, a Acadêmicos de Gravataí pisou na avenida em busca do bicampeonato com o enredo Paraíso Nordestino: Um Repente Encantado de Um Povo Arretado!, exaltando os encantos da região.
A ala da velha guarda, composta junto a um tripé da figura de Nossa Senhora Aparecida, chamou a atenção com fantasias representando fiéis em romaria pelo sertão, carregando crucifixos e velas. Logo atrás, as baianas trouxeram todo o axé, vestidas com rendas, turbantes e vasos de flores brancas na cabeça, simbolizando a lavagem das escadarias da Igreja Nosso Senhor do Bonfim, em Salvador.
A harmonia musical da escola atravessou a avenida acompanhada de um sanfoneiro, reforçando a conexão com o enredo.
O último carro, O Relicário da Cultura Nordestina, trouxe em seu primeiro módulo a Onça Negra – símbolo da escola – com chapéu de couro. No segundo módulo, um grande arraial de São João, onde um grupo cênico encenava a tradicional festa junina do Nordeste. Iluminada pela Lua, uma imponente escultura de Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, fechou a apresentação.
Copacabana
A Copacabana trouxe uma reedição do enredo de 2001: Escrava Teodora, a que Sabia Mais do que os Sábios Sabiam. Esse Carnaval marcou época, já que a Sereia da Bom Jesus ficou com o vice-campeonato.
A personagem central, Teodora, é retratada no livro A Donzela Teodora, de Leandro Gomes de Barros, um dos grandes nomes da literatura de cordel. A comissão de frente representou um violeiro repentista que, ao ler a obra, canta sua história.
O abre-alas trouxe um cenário com Teodora sendo oferecida à venda, em uma alegoria puxada por dois grandes guardiões. A resiliência feminina também foi homenageada, com a ala das baianas representando a força da mulher escravizada. Ao redor do segundo carro, crianças jogavam mirra na avenida.
Por fim, o enredo se misturou com a fábula As Mil e Uma Noites, levando o público a uma viagem imaginária.
Imperadores do Samba
A Imperadores do Samba tomou conta do Porto Seco com seu enredo Encantados, um chamado à memória e à preservação da riqueza cultural e natural do Brasil.
O desfile começou com uma ala coreografada, na qual os integrantes representavam o fogo sagrado na pajelança. Com ele, o pajé se comunica com os espíritos da natureza e invoca os Encantados.
Ao longo da apresentação, surgiram personagens lendários como Mula sem Cabeça, Caipora e Saci, além de entidades espirituais como Iemanjá e Pomba-Gira. O segundo carro alegórico fez referência à religiosidade, com esculturas de uma benzedeira e de uma rezadeira.
Junto à bateria, desfilaram os tamboreiros, responsáveis pelo som do Tambor de Mina e do tambor de crioula – religião e dança, respectivamente, que surgiram como resistência cultural e celebração da identidade negra.
No último carro, uma escultura do Boitatá serpenteava em chamas pela mata. Em sua cabeça, uma grande labareda parecia ganhar vida, enquanto os fogos-fátuos ao redor ajudavam a tornar a alegoria ainda mais bonita.
União da Vila do IAPI
O dia estava quase raiando quando a União da Vila do IAPI entrou na avenida. A escola levou o público em uma viagem da estação da alegria até a estação de Madureira, com um enredo que homenageou a Império Serrano, do Rio de Janeiro.
As fantasias das alas foram batizadas com os nomes de temas de enredos históricos da Império Serrano, como Pindorama, Ouro Negro, Medicina, Esmeraldas e Pernambuco. Outro destaque foi a coreografia do enredo, que colocou os componentes da escola em um verdadeiro flash mob.
Um panteão de celebridades surgiu no Porto Seco, com uma escultura de Zacarias Avelar – um dos fundadores da agremiação carioca – e homenagens a ícones da verde e branco como Beto Sem Braço, Arlindo Cruz, Dona Ivone Lara, Rosa Magalhães, Silas de Oliveira e Aluísio Machado.
No último carro alegórico, uma representação do Império no universo do Carnaval mostrou todo o glamour e a magia da festa.
O Carnaval de Porto Alegre segue neste sábado, com mais escolas na disputa pelo título: Império do Sol, Unidos de Vila Isabel, Estado Maior da Restinga, Bambas da Orgia e Imperatriz Dona Leopoldina.