Tradicional espaço cultural na Rua dos Andradas, no Centro Histórico de Porto Alegre, o Museu do Trabalho ainda não reabriu desde a enchente de maio de 2024, quando ficou alagado por 20 dias. Boa parte da estrutura é de madeira e precisa ser recuperada. Por décadas, a administração operou sem uma documentação que comprovasse o uso do espaço. O problema está resolvido, uma vez que a prefeitura de Porto Alegre, dona do imóvel, concedeu a permissão de uso à gestão do museu.
O documento foi entregue pela Secretaria Municipal de Administração e Patrimônio (Smap) em novembro do ano passado. Com isso, o museu agora pode se inscrever em editais públicos a fim de obter financiamento para uma reforma. A primeira aprovação já veio por meio do Programa Emergencial Rouanet RS, criado no ano passado. O museu está apto a captar R$ 3 milhões com empresas. As interessadas investem e, depois, abatem em impostos, com contrapartidas e a exposição da marca no local.
Do montante, R$ 1,1 milhão será usado para obras emergenciais de recuperação do espaço para que ele volte a operar parcialmente. O galpão da sala de exposições, por exemplo, está interditado por causa de rachaduras que surgiram nas paredes. O valor também será usado para recuperar obras do acervo que foram danificadas na enchente.
— Tivemos apoio de voluntários da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) por meio do Sistema Estadual de Museus. Para mexer nas máquinas, contratamos gente com dinheiro do museu mesmo. Precisaremos de pelo menos 300 dias para voltar a abrir. Esse ano "já era" — diz o administrador e curador do Museu do Trabalho, Hugo Gusmão, que está na função desde 1991.
Precisaremos de pelo menos 300 dias para voltar a abrir.
HUGO GUSMÃO
Administrador e curador do Museu do Trabalho
Outros R$ 600 mil serão utilizados para desenvolver o projeto arquitetônico de uma futura grande reforma no museu. Para ela, será destinado o restante do montante que será arrecadado com a Rouanet RS.
No total, o museu conta com cinco galpões, que abrigam uma sala de exposições, uma reserva técnica, uma secretaria, o acervo de máquinas, a oficinas de gravuras, a sala de dança e o teatro.
Nesta intervenção, está prevista a troca do teatro de lugar, indo para onde eram realizadas as oficinas de gravuras. Nada do antigo espaço será utilizado. Serão comprados móveis novos e refeito o palco. Já a sala de exposições será mantida no mesmo local. Um corredor de acesso ao lado levará os frequentadores a uma cafeteria com vista para a Avenida Mauá.
— Eles estão lá provisoriamente há décadas. Hoje está confuso, não tem uma lógica. Os galpões eram independentes. Fizeram um telhado para unir dois deles e acabou virando outro galpão — diz o arquiteto Flávio Kiefer, arquiteto que está elaborando o projeto.
Kiefer é responsável, junto com Joel Gorski, pela transformação do Hotel Majestic na Casa de Cultura Mario Quintana. Também é autor de outros projetos icônicos de Porto Alegre, como o Centro Cultural Erico Verissimo e a Casa Lutzenberger.
— O museu terá duas entradas. Vamos manter as características, como a madeira na fachada. É um trabalho de preservação, mas modificando. Nossa preocupação é preservar o valor arquitetônico — completa o profissional.
Sobre as cores da fachada, branco e azul, o curador do museu brinca:
— Eram as tintas mais baratas que existiam. Todo mundo confunde com a Marinha e acabou virando a marca do museu.
Antes de obter a documentação de permissão do uso, o Museu do Trabalho vivia apenas de recursos próprios, como, por exemplo, com a locação do teatro para peças. Também arrecada verba mediante um consórcio de gravuras, onde os assinantes têm direito a uma obra por mês pelo custo de R$ 165. Neste momento, há 85 pagantes.
Gusmão está trabalhando sozinho, mas contrata pessoas para serviços pontuais, como o de restauro de obras atingidas pela enchente. A exposição do artista Elias Maroso, que ocorreria no Museu do Trabalho, será no Museu de Artes do Rio Grande do Sul (Margs). As demais tiveram de ser canceladas. No entanto, obras na Bienal do Mercosul de 2025 em Porto Alegre serão expostas em frente à fachada do museu.
O museu
Inaugurado em 7 de dezembro de 1982, o Museu do Trabalho teve como um dos seus idealizadores o sociólogo Marcos Flávio Soares, que tinha como ideia instalar um centro cultural voltado para as diferentes formas de manifestação artística, com ênfase no resgate da história do trabalho, na Usina no Gasômetro. Porém, desencontros de interesses, na época, impossibilitaram o movimento.
O museu foi parar, provisoriamente, em galpões na Rua dos Andradas. Ali, acabou ficando. Tornou-se um espaço que serve como ponte entre jovens e veteranos artistas visuais. Conta com espaço para teatro e uma sala de dança, antes administrada em parceria com a companhia de Carlota Albuquerque.
Em suas quatro décadas de história, o museu abrigou mais de 270 exposições, abrangendo desde artistas locais, nacionais e até mesmo internacionais.