Conhecida como Rua 24 Horas, a Travessa Engenheiro Acilino de Carvalho, entre a Andradas e a Andrade Neves, no Centro Histórico, está longe de ter atividades comerciais ininterruptas, como já foi planejado, tampouco está com ocupação plena. Atualmente, apenas nove dos 19 pontos comerciais são utilizados. Com piso esburacado, telhado quebrado e trabalhos de revitalização parados, o local enfrenta perda de lojistas nos últimos anos. Recentemente, uma lanchonete e uma lotérica foram fechadas devido ao baixo movimento, em grande parte atribuído à insegurança do local.
A prefeitura chegou a iniciar, em janeiro de 2023, as obras de renovação do espaço, com a troca das telhas. Mas, 15 dias depois de pronta, um vaso de flores caiu de um dos prédios e destruiu parte da estrutura. Desde então, o problema ainda não foi resolvido. No entanto, a maior queixa dos comerciantes é sobre as condições do assoalho, que obrigam quem caminha pelo trecho a desviar dos muitos buracos, representando risco de acidentes especialmente a idosos, cadeirantes e pessoas cegas.
Entre os negócios ainda abertos, há uma barbearia, tabacarias, uma lotérica e caixas eletrônicos (único serviço que opera por 24 horas).
Dona da barbearia CPR, que está há mais de 30 anos no local, Salete Clei diz que o desleixo com o passeio público afasta os clientes.
— As pessoas vêm da Andrade Neves e dizem: "Não vou descer aí". A gente fica parado aqui porque não tem movimento. Chamam aqui de "beco do mijo". É horrível dizer isso, mas é uma imundice — diz a empresária. — É perigoso, tem muito assalto à noite — completa.
A travessa é formada por seis prédios com salas comerciais. Um deles, o edifício Vera Cruz, também tem acesso pela Avenida Borges de Medeiros. No térreo, ficavam negócios como o Café do Mercado (fechado na pandemia) e o Cine Victória (reaberto em 2023 e fechado novamente em 2024). A Severo Roth, de eletrônicos, também tem loja no imóvel, mas entregou metade do ponto, justamente a parte que tinha acesso pela Rua 24 Horas.
Estamos com 55% de ocupação nas salas do prédio principal e 50% no anexo. Com a travessa desse jeito e a obra do Quadrilátero Central (na Borges de Medeiros), acabamos perdendo muitos inquilinos.
MARY SANDRA TAVARES
Gerente-administrativo do edifício Vera Cruz Anexo e Galeria Cine Vitória
A Secretaria de Obras e Infraestrutura (Smoi) diz estar finalizando o estudo de orçamento da obra do piso para licitar a empresa que fará os reparos. A expectativa é de que a empresa escolhida comece a intervenção no primeiro semestre e termine até o fim do ano.
Serão usados pisos de granito cinza escuro e avermelhado que foram retirados (em bom estado de conservação) da Rua dos Andradas pelas empresas contratadas para executar as obras do Quadrilátero Central. Também está prevista nova iluminação no trecho, que será implantada pelo consórcio IPSul. Os tijolos à vista, tradicionais da travessa, também serão recuperados.
— Temos que fazer a obra sem prejudicar o comércio, sem fechar as lojas. Esse é o grande desafio. Vamos elaborar uma estratégia para não causar tanto transtorno — diz o secretário da Smoi, André Flores.
Obras no Quadrilátero Central
O Secretário da Smoi, André Flores, diz que a agilidade na troca do piso da Travessa Engenheiro Acilino de Carvalho depende do fim da obra na Rua dos Andradas, incluída nas intervenções no Quadrilátero Central, que devem ser finalizadas em maio deste ano.
O chefe da pasta garante que, até o final de março, o serviço nas ruas do Centro Histórico estará pronto. Os dois meses seguintes serão usados para realizar ajustes.
No total, 10 trechos de ruas e avenidas do centro de Porto Alegre passaram por recuperação. Ainda falta concluir a instalação da iluminação pública da Rua dos Andradas, a aplicação do piso podotátil na Avenida Borges de Medeiros e na Rua dos Andradas, além da colocação de mobiliário, como bancos, floreiras e lixeiras.
A obra começou orçada em R$ 16 milhões, mas agora já chega a R$ 24,6 milhões. Os trabalhos foram iniciados em junho de 2022 e deveriam ter sido finalizados em dezembro do ano seguinte. A obra é tocada pelo consórcio formado pelas empresas RGS, AGR e Elmo.
Rua "24 Horas"
Mesmo após a revitalização, a travessa não funcionará durante 24 horas. Para isso, o espaço precisa, antes, voltar a receber novos negócios.
A ideia de transformar a travessa em Rua 24 Horas surgiu no final da década de 1990. O caminho teria uma rotina ininterrupta, com os estabelecimentos sempre abertos. Na época, a prefeitura comprou a ideia e instalou rede elétrica, esgoto e telefonia.
O então presidente da Sociedade de Engenharia do Rio Grande do Sul, Sergio Bottini, apresentou ao prefeito Tarso Genro (PT) uma proposta para transformar a travessa — que, segundo ele, tinha virado "banheiro público após as 18h".
Um telhado translúcido foi instalado sobre a via, que recebeu novo piso e teve as fachadas restauradas, bancados pela iniciativa privada, enquanto o poder público assumiu a infraestrutura. Porém, na prática, a ideia de funcionar todas as horas do dia nunca vingou. A maior parte dos estabelecimentos sequer tem atrativos para este fim. No governo do prefeito Nelson Marchezan Jr, chegou a se discutir a possibilidade de fechar a via durante a madrugada com portões.