Pela segunda vez, Porto Alegre sedia a edição RS da Expo Favela, que começou nesta quinta-feira (28), no Centro de Eventos da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), em Porto Alegre. O evento, com foco no empreendedorismo nas favelas e comunidades periféricas, tem entrada gratuita.
Pelo entusiasmo dos expositores, esta edição do evento no Estado tem tudo para ser um sucesso. O coordenador da Central Única das Favelas (Cufa-RS), Júnior Torres, ressalta a importância da iniciativa:
— A Expo Favela contribui para a retomada econômica do Estado. Foram mais de 5 mil empreendedores inscritos. Isso demonstra o tamanho do empreendedorismo de favela do RS. Selecionamos cem e, daqui, 10 irão para a etapa nacional — afirma, dizendo que a expectativa é de que 20 mil visitantes passem pela PUC durante o evento.
A feira, que se encerra nesta sexta-feira (29), às 21h, tem como meta conectar empreendedores das comunidades mais vulneráveis socialmente com investidores e empresas para gerar oportunidades de negócios e transformação social.
Nesta quinta, muitos estudantes de escolas públicas e de centros da juventude circulavam pelo espaço. Os expositores apresentavam projetos, produtos e serviços para o público. E até uma competição de estilo livre entre os barbeiros era acompanhada com entusiasmo pelos presentes.
Em paralelo, ocorriam palestras, workshops, exposições e rodadas de negócios, além de venda de livros. Também há oferta de gastronomia, atividades variadas e lojinha com produtos da Expo Favela RS.
Na parte da manhã, os jornalistas Vitor Rosa, Mary Silva e Eduardo Cardoso, da RBS TV, participaram de um painel, onde puderam compartilhar com os visitantes as histórias de resistência e solidariedade vivenciadas durante a cobertura da enchente de 2024.
Amigos de Sapucaia do Sul desenvolvem protótipo de drone para auxiliar nas enchentes
Os efeitos da enchente de maio de 2024 e até da pandemia de Covid-19 serviram como estímulo para comunidades desenvolverem projetos para auxiliar pessoas em situações de risco nessas situações. O desenhista mecânico Adílio Luis da Silva Camargo, 33 anos, é um desses casos.
Integrante da comunidade do bairro Multiforja, em Sapucaia do Sul, na Região Metropolitana, o idealizador procura empresas ou empresários dispostos a investir no projeto pensado por ele e por outros amigos. Trata-se de drones para auxiliar equipes do Corpo de Bombeiros e da Defesa Civil em situações extremas.
— Ano ano passado, teve algumas catástrofes nos Estados Unidos e no Japão, que nos motivaram a desenvolver essa pesquisa de drones aplicados para a Defesa Civil. Só que nós não imaginávamos que em 2024 o Brasil acabaria precisando desse tipo de tecnologia — relata Camargo, dizendo que o drone ainda precisa ser aperfeiçoado.
A Sky Key Technology, startup embrionária do bairro Multiforja, ainda não tem clientes, mas desenvolve essa ideia há 10 anos. Na Expo Defense de Santa Catarina (encontro que reúne especialistas e entusiastas no campo da segurança e defesa), o projeto ficou com o primeiro lugar como melhor tecnologia de defesa.
A proposta é que o drone possa carregar até 500 quilos de peso, levar recipientes com remédios e kit de sobrevivência para as vítimas de enchentes que estejam em locais de difícil acesso ou à espera de resgate. Itens como capa de chuva, colete salva-vidas, corda, alimentação, suplemento, água e um rádio comunicador integram o kit.
— Não temos nenhum tipo de apoio ou de patrocínio. Tudo o que desenvolvemos hoje foi com nosso custo e conhecimentos. Inclusive estamos buscando ajuda para irmos a um evento em Brasília, na próxima semana, que fomos convidados — menciona o expositor.
O protótipo do drone, que custou R$ 60 mil para ser fabricado, poderia ser utilizado ainda em combates a incêndios provocados por queimadas na Floresta Amazônica.
— Não é um drone apenas de visualização, é de interação. Vai usar a visão de inteligência artificial dele e vai agir para combater (o fogo). O equipamento contempla utilização de mangueiras de incêndio, para combate tanto vertical quanto horizontal, e com a possibilidade de lançar granadas antichamas. Essas esferas em contato com o fogo explodem e liberam um gás semelhante ao de extintores — detalha.
Surgido durante a pandemia, Grupo Marias atende mulheres desempregadas e vítimas de violência doméstica
Associação sem fins lucrativos, o Grupo Marias surgiu em 2021, durante a pandemia de Covid, e tem atuação na Restinga. O projeto foi criado visando proporcionar inclusão social e autonomia por meio do desenvolvimento das potencialidades de mulheres vítimas do desemprego e da violência doméstica.
— Muitas mulheres em situação de vulnerabilidade social e vítimas de violência, não encontravam apoio no governo e procuravam as professoras para pedir apoio. Aí veio o projeto para fazer o acolhimento dessas mulheres — narra a professora Rosana Kasper, 52.
A associação oferece de forma gratuita oficinas e palestras, como arterapia, musicaterapia, alfabetização, artesanato, costura básica, culinária, danças e crochê.
Um corpo de 25 voluntárias de diferentes profissões auxilia em atendimentos gratuitos nos campos jurídico, social e psicológico. Nesta quinta, algumas das 70 mulheres atualmente atendidas estiveram visitando a Expo Favela RS.
No estande do Grupo Marias há trabalhos expostos realizados no projeto. O material é vendido para que as mulheres atendidas possam adquirir os próprios insumos de sua produção.
— O que nós vendemos aqui, e ajuda a manter o Grupo Marias, são as mantas produzidas por elas e feitas durante a enchente. Levamos (as mantas) para os abrigos de mulheres e, como recebemos muito pedidos, estamos ofertando como venda. E vendemos as nossas camisetas pelo fim da violência doméstica contra a mulher — explica Rosana.
Tabuleiros de povos originários auxiliam na educação e viram curta-metragem
A Expo Favela RS exibe atrações desconhecidas para muita gente. Um exemplo são os jogos de tabuleiros dos povos originários, que viraram até curta-metragem no youtube.
— A nossa proposta é produzir um curta-metragem, que é um produto educacional. Esse é o nosso objetivo — compartilha a professora de matemática Karine Soares da Silva, 45.
O curta-metragem Etnomatemática Jogos de Tabuleiro Povos Originários busca suplementar as Leis 10645/03 e 11645/08, tendo como apreciação jogos de tabuleiros de povos originários, indígenas e afro-brasileiro.
A etnomatemática ressalta a matemática dos diferentes grupos culturais. Também recomenda a ênfase nos conceitos matemáticos informais desenvolvidos pelos educandos por meio de seus conhecimentos fora da experiência escolar na vivência do seu dia a dia.
O curta foi elaborado como um produto educacional e cultural, oferecendo para a comunidade o reconhecimento de identidade, valorização ancestral e a construção de seres mais críticos, criativos e autônomos. A viabilização foi possível por meio da Lei Paulo Gustavo (Lei Complementar 195/2022).
A docente da Escola Estadual de Ensino Médio Mario Quintana, de Alvorada, conta o que consegue ensinar aos alunos por meio dos jogos.
— Eu consigo trazer a etnomatemática existente nesses jogos para dentro da sala de aula — assegura.
O filme já foi gravado e agora o objetivo é a produção de outros filmes, e-books e livros sobre a temática dos povos originários.
— Tem muito pouco material dela (temática dos povos originários) no mercado — conclui Karine.