Quem transita pela Avenida Cristóvão Colombo, na zona norte de Porto Alegre, se depara com uma cena ímpar: sete barracas de lona preta abrigam famílias que tiveram as casas alagadas. Oriundos do Loteamento Santa Terezinha, conhecido como Vila dos Papeleiros, os moradores decidiram deixar os abrigos onde se encontravam para permanecer na rua.
— Eu estava em um abrigo, mas tinha muita regra. Não deixa levar cachorro junto… Resolvi vir para cá. Quero voltar para minha casa. Ainda não cheguei lá, mas já estou mais perto. Não preciso de nada, só quero que pare de chover e a água baixe — afirma Paulo Roberto Santos, que prefere ser chamado pelo apelido de “Caroço”.
Embaixo de cada lona, uma história diferente, como a de Isaque Bassante, de 20 anos, que conta os dias para reencontrar a esposa e a filha recém nascida.
— Saímos de casa há duas semanas. Minha nenê tinha 23 dias de vida. Primeiro ficamos na casa de um rapaz desconhecido, que nos viu na rua e convidou para subir para o apartamento com a família dele na Avenida Farrapos, mas a água subiu lá também. Então, fomos para um abrigo e minha nenê começou a adoecer. Minha mulher está lá no hospital com ela e eu estou aqui, esperando a água baixar para poder voltar para a casa. Muita gente está nos ajudando com doações — conta o jovem pai.
Entre os doadores, um deles é vizinho da pequena ocupação. Morador da Rua Câncio Gomes, o agrônomo Tiago Duarte se deparou com a cena e não hesitou em ajudar.
— Eu e minha esposa passamos por aqui para ir no mercado e isso nos sensibilizou. Compramos cobertores, fui em casa procurar roupa e distribuímos de acordo com o tamanho de cada um. Há duas semanas, ajudo eles com roupa, comida e, de vez em quando, uma água quente pra tomar um banho — explicou.