Um grupo de moradores da Lomba do Pinheiro, na zona leste de Porto Alegre, está vendo a água sair com força das torneiras de casa. A região foi uma das mais prejudicadas pelo desabastecimento nas últimas semanas. A melhoria na pressão d'água em parte do bairro ganhou força nos últimos dias, quando uma manobra hidráulica foi realizada pelo Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae).
O momento em que o servidor realizou o procedimento chegou a ser registrado em vídeo. Enquanto o profissional girava a ferramenta no mecanismo subterrâneo, como se fosse uma chave, um morador que acompanhava os trabalhos chegou a afirmar:
— É só isso. Mais nada do que isso. Tá resolvido o problema, vamos ver se vai dar pressão na água.
Não demorou muito para o grupo da Associação dos Amigos da Morada da Colina (Ascamc) no WhatsApp registrar mensagens de comemoração pelo retorno da água e em condições nunca antes registradas, segundo eles.
Uma das pessoas chegou a dizer que se tratava de uma "felicidade tão grande por uma coisa que deveria ser normal".
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Dmae explica investimentos
De acordo com o Departamento Municipal de Água e Esgotos, em 2023 foram realizados investimentos pontuais em bombeamento e na parte elétrica. Além disso, o sistema passou a contar com uma válvula de pressão e uma adutora na Estrada Antônio Borges, que dá acesso à Lomba do Pinheiro. Elementos que, no momento de crise, acabaram colaborando com a reversão do problema.
— Decidimos fazer uma manobra, um entroncamento, de uma rede que já existia considerando que nós já tínhamos um sistema um pouco mais robusto. Claro, estamos fazendo isso de forma gradativa, já faz 48 horas que estamos implementando, mas é uma ação que vem sendo estudada há um certo tempo e ela tem se mostrado efetiva — explica a diretora de tratamento do Dmae, Joice Becker.
Apesar de toda a comemoração feita pela comunidade beneficiada, um questionamento tem ganhado força: por que essa medida não foi adotada há muito mais tempo?
A auxiliar contábil Cristiane dos Santos Bernardi mora na Travessa Três Irmãos há quatro anos. Ela disse que a surpresa foi grande com a melhora na pressão. Ainda mais na rua onde, seja inverno ou verão, o desabastecimento faz parte da rotina.
— A força da minha água, tu não tem noção. Está igual a da tua casa. As pessoas perguntam: "Como assim?". Vocês não têm noção do que é uma água fraca. Ao mesmo tempo, é revoltante, entendeu? Eu passar esses quatro anos que estou ali, chegar em casa e estar sem água ou com água fraca — desabafa.
Outro morador confirma o relato de Cristiane:
— É impossível a gente ficar sem água dessa maneira. É só nos bairros carentes que acontece isso.
A direção de tratamento do Dmae afirma que as medidas que foram adotadas para solucionar o problema vinham sendo estudadas:
— Não se trata de uma escolha de momento. É que ao longo do ano conseguimos algumas intervenções que podem nos ajudar nesse verão. Elas não estavam maduras, prontas. Elas já vinham sendo estudadas há um bom tempo — afirma Joice.
Ela admite que a manobra feita desta vez não resolverá o problema da falta e da pressão d'água, pois o sistema está "no limite" e necessita de uma ampliação para atender adequadamente a cidade como um todo. No entanto, a gestora ressalta que o instrumento adotado ao menos ajudou a reduzir os impactos negativos para os moradores:
— A gente precisa avaliar bem antes de implementar algo. Não implementamos essa medida em função da crise. Ela já vinha sendo pensada e, neste momento, colocamos em prática como forma de resolver o problema.