O ritmo de novas pinturas diminuiu ao longo da pandemia e por causa dos dias chuvosos, mas o projeto Borboletas Pela Vida segue em andamento e teve o termo de cooperação técnica renovado com a prefeitura de Porto Alegre por mais um ano.
Segundo dados da Fundação Thiago Gonzaga, já são 1.620 borboletas pintadas em todo o Estado, sendo 161 no último ano, em locais onde houve vítimas de trânsito. Diza Gonzaga, presidente do Vida Urgente e diretora institucional do Departamento Estadual de Trânsito (Detran-RS), explica que há uma lista com informações detalhadas de onde deve ser pintada cada borboleta a partir de um pedido dos pais que perderam um filho para a violência do trânsito. A EPTC só realiza as pinturas quando o asfalto está seco, detalhe que atrasa o processo em épocas de chuva, como os meses de abril e maio.
A ideia de pintar borboletas brancas em pontos onde jovens perderam a vida em acidentes de trânsito de Porto Alegre completa, em 2022, 18 anos. É a mesma idade que Thiago Gonzaga tinha quando morreu, em 1995, e inspirou os pais Diza e Régis a criarem o Vida Urgente. O projeto Borboletas Pela Vida surgiu quando uma das mães participantes das reuniões do grupo de amparo às famílias quis colocar uma cruz na Avenida Goethe, onde o filho dela havia sido vítima, em 2004. Diza sugeriu que a borboleta, símbolo do projeto, fosse o objeto pintado.
— Eu dizia que o Thiago era um “pesquisador borboleta”. Porque aos 18 anos ele vivia borboleteando, também com a mente, de um lado para o outro. Numa semana queria taekwondo, na outra vinha motivado a estudar inglês, era muito animado. Pensei nisso para dar o símbolo ao projeto, e anos depois vi que era uma imagem de renascimento, transformação, do começo da vida depois do casulo. E é isso que queremos, ressignificar a vida das pessoas a partir da perda delas — explica Diza.
Em um primeiro momento, a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) não recebeu a ideia tão bem, Diza conta. Porém, a insistência foi tanta que as borboletas começaram a ser pintadas com a mesma tinta que é usada em faixas de pedestres, para conferir mais durabilidade à figura no asfalto. Desde 2018, é previsto que a EPTC forneça esse serviço, com o objetivo de conscientização.
— Recebo feedbacks de pessoas que dizem que tiram o pé do acelerador quando enxergam uma no asfalto. Já me pediram para fazer em Rosário, na Argentina, no Interior e até em outros Estados. É um jeito de sensibilizar, humanizar essa perda. Tem pais que em vez de ir ao cemitério visitar o filho, vão até a borboleta, pois acham um ambiente menos pesado. É uma homenagem a quem não se conforma em ver aquele local tão marcante sem nenhuma modificação relacionada à sua perda — detalha.
Trânsito na pandemia
Diza enxerga o trânsito ainda mais intenso desde a retomada da circulação nas ruas durante a pandemia. Entre suas atuações no Detran e no Vida Urgente, quer focar na educação de crianças ainda em idade escolar para que aprendam cedo o que fazer ou não perto de um carro, seja conduzindo, pedalando ou caminhando. O maior defeito do motorista atual, ela afirma, é a impaciência.
— Buzinam por qualquer coisa, parece que estão com pressa para recuperar um suposto tempo que foi perdido enquanto estavam em casa — ela reflete.
Por outro lado, viu a rede de apoio às famílias de vítimas crescer nos últimos dois anos. Segundo ela, as limitações presenciais para reuniões entre grupos de pais e mães foi superada, fazendo com que participantes de Rio de Janeiro, Espírito Santo, São Paulo, Pará e outras localidades do país participem de eventos online adaptados.
— Antes eram 600 famílias no total, agora cresceu tanto que nem lembro mais exatamente qual o número — ela arrisca.