Desde abril passado, quem caminha pela calçada da Avenida Pereira Passos, na esquina com a Rua Goitacaz, no bairro Vila Assunção, tem duas opções: desviar de um barranco de terra, pedras e raízes com cerca de três metros de altura e dividir espaço com os carros no asfalto ou atravessar para a praça no outro lado. Isso porque os restos de uma figueira centenária e os escombros do muro de uma casa seguem ocupando o passeio público na zona sul da Capital.
A árvore estava no local desde antes da construção dos anos 1960, que a cercou com um muro de pedra, de acordo com as contas da moradora do local Maria Del Carmen Abraham, 64 anos. Proprietária do imóvel há 33 anos, Maria afirma que a prefeitura começou a retirar a figueira dali em meados de 2021, mas parou o serviço quando percebeu que as raízes sustentam parte da piscina e do pátio da casa dela. Desde então, uma cerca de metal com tapumes e arame farpado substitui a vegetação, as pedras do muro estão empilhadas nos fundos da casa dela e o monte de terra na calçada preocupa quem passa por perto.
— Quando chove corre água pelo barranco e temos ainda mais receio de que ele desmorone — comenta o engenheiro civil Rogério Schwarzbach, 63, morador do bairro que passa diariamente pela esquina em suas caminhadas com a esposa e colega de profissão, Miriam, 59:
— Às vezes atravessamos a rua para evitar, mas os carros também precisam desviar da terra — complementa Miriam.
A linha de ônibus Pereira Passos, que parte da Praça Tabira, em frente ao muro derrubado com os restos da árvore, faz a primeira parada do trajeto ao lado da esquina. As pessoas que esperam pelo transporte público também têm medo de chegar perto do monte de pedras e raízes.
— Não tem como passar a pé por ali, está desmoronando — aponta Nair Lima, 69, moradora da chamada Vila dos Pescadores, na Avenida Guaíba, enquanto espera o coletivo da linha Assunção que a leva diariamente para trabalhar em um shopping da Zona Sul.
O caso foi sugerido pelo leitor Sérgio Souza de Araújo, que é morador da região.
Topografia acidentada
A região, que já contou com trapiche e praia no início do século 20, teve as ruas desenhadas em curva justamente para respeitar o relevo e a vegetação natural. Segundo relato da própria moradora da casa cujo muro causa preocupação entre pedestres, a figueira estava ali desde antes de o terreno ser delimitado.
A Rua Goitacaz tem formato de U para quem a vê em um mapa ou de cima. Ela começa na Avenida Pereira Passos, no local onde a figueira estava, tem seu ponto mais alto na Paróquia Nossa Senhora da Assunção e termina na esquina da Rua Caeté. Além da Tabira, na esquina inicial da via, outra praça marca seu fim, a Franklin Perez, três metros mais alta do que a extremidade mais próxima do Guaíba.
O problema da construção
Originalmente, a árvore deveria ter sido deixada de fora do terreno, pois faz parte da área da calçada. Maria explica que nos últimos 12 anos tentou chamar a prefeitura para fazer a manutenção, pois via que a figueira tinha tomado proporções maiores do que o muro em volta dela e a casa com piscina ao lado comportavam. Por baixo do solo, as raízes forçavam as pedras que separavam o terreno da rua e o pátio da residência.
A solução da prefeitura
A Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (SMSUrb) confirma que iniciou a remoção da árvore, mas interrompeu o serviço por conta do risco de dano estrutural ao imóvel. Por meio de nota, a pasta diz que irá concluir a retirada das raízes, da porção de terra e dos entulhos do muro, além de construir uma nova calçada no local, até o final de janeiro de 2022.
Leia a nota da SMSUrb na íntegra:
"A Secretaria Municipal de Serviços Urbanos informa que após a supressão da árvore de grande porte, localizada na Av. Pereira Passos, esquina com a Rua Goitacaz, Vila Assunção, foi constatado que a remoção total das raízes do vegetal poderia comprometer a estrutura da residência, por isso, o serviço foi interrompido para realizar novo estudo para avaliar a situação. Os engenheiros da SMSUrb já trabalham em um novo projeto para remover as raízes e um novo muro será construído no local. A fim de respeitar as normas técnicas, será preciso recuar a estrutura para liberar o passeio para pedestres, o que antes não ocorria, já que a via era obstruída pela árvore e pelo muro que a envolvia. A prefeitura também irá reconstruir a calçada no trecho. O serviço será executado até o fim de janeiro."