Desde o primeiro dia de operação do catamarã, Cheguevara Pooch Moreira, 36 anos, recebe os passageiros junto ao atracadouro. Cumprimenta eles com um sonoro “bdia” ou “btarde”.
O dia 28 de outubro de 2011, data que marcou o começo das linhas da Catsul entre Porto Alegre e Guaíba, também foi a estreia de Cheguevara como marinheiro, funcionário que ajuda a atracar e desatracar o barco, auxilia os passageiros e passa orientações sobre a viagem.
Há seis anos, foi promovido a comandante. Fica na cabine no andar superior, com as mãos no timão. Os olhos estão fixos no Guaíba e no aparelho que mostra a profundidade da água, a carta náutica e as outras embarcações que se aproximam.
Como raramente tem companhia ali no comando, ouve notícias na Rádio Gaúcha o dia inteiro. Repara nos biguás, nas gaivotas e garças, passa pelos navios gigantes que chegam ou deixam Porto Alegre.
As viagens duram em torno de meia hora. A embarcação navega a 21 nós, algo como 40 km/h. Acontece de Cheguevara ter que operar só por equipamentos em dia de neblina fechada, quando nem dá pra enxergar o Guaíba.
Mas ele conta que nunca cancelou viagem por mau tempo, nem nos temporais. A exceção foi durante a cheia de 2015, quando o porto foi fechado e a CatSul, impedida de operar.
De cara, o que chama atenção no comandante é o nome escolhido pelo pai, um vereador do interior que nunca foi comunista (era filiado ao então PMDB). Cheguevara escrito junto mesmo, diferente do guerrilheiro da Revolução Cubana
— Meu pai escolheu pra não ter outro igual — destaca.
Trocando algumas palavras, fica evidente sua paixão pela água. A primeira coisa que aprendeu a desenhar na escola foram barcos. Cresceu numa colônia de pescadores em Tapes, aprendeu a nadar na Lagoa dos Patos. Embora tenha sido padeiro, confeiteiro e porteiro, trabalhar em barco era o sonho dele desde guri.
Deu a coincidência de ter recém terminado seu curso de marinheiro quando abriu a seleção da Catsul. E tem sido muito feliz nesse vai-e-vem Porto Alegre e Guaíba. Sente-se um privilegiado.
— Acordar de manhã vendo o sol nascendo ou ver o pôr do sol no Guaíba é maravilhoso.
Ele viu a orla se transformar nos últimos 10 anos. Mas acredita que o que mais mudou nessa década é ele mesmo. Amadureceu bastante, garante. E virou pai. Conta, orgulhoso, que vestiu o filho Leonardo Cheguevara de marinheiro no batizado.
